O nome do governador do Banco de Portugal, e ex-ministro das Finanças, Mário Centeno, foi proposto por António Costa a Marcelo para manter o Governo PS em funções e não existir uma dissolução da Assembleia da República.
À entrada da sede do PS, no Largo do Rato, ao início da noite desta quinta-feira, o primeiro-ministro lamentou que o Presidente da República tenha optado pela marcação de eleições legislativas antecipadas, em vez de apostar numa sucessão imediata no cargo de primeiro-ministro.
Eu tinha, e tenho, um entendimento de que o País não merecia ser de novo chamado a eleições
António costa
“Respeito a decisão do Presidente da República [de marcar eleições antecipadas]. Foi uma escolha do próprio, visto que o Conselho de Estado não se pronunciou relativamente a essa proposta”, começou por apontar Costa, que se deslocou a pé, desde São Bento até ao Largo do Rato. “Ao Partido Socialista, como referencial de estabilidade no nosso País, competia apresentar uma solução alternativa, que permitisse poupar ao País meses de paralisação até às eleições, que consistia na solução de apresentar uma personalidade de forte experiência governativa, respeitada e admirada pela generalidade dos portugueses, com forte prestígio Internacional – que é algo muito importante nesta fase, tendo em conta o impacto naturalmente negativo que estas notícias tiveram no exterior -, que foi precisamente o professor Mário Centeno”, acrescentou.
Costa defendeu que “a alternativa que o Partido Socialista apresentou era uma alternativa séria, que respondia àquilo que é o contexto Internacional, às necessidades do país, e teríamos um Governo renovado, apoiado por uma forte maioria parlamentar, com grande apoio do Partido Socialista e com uma personalidade que merece a confiança, o crédito e a admiração da generalidade dos portugueses”.
Para o chefe do Governo, não faz sentido avançar para eleições, em março de 2024, tendo em conta que as legislativas em janeiro de 2022 foram uma vitória do PS e não a de um candidato a primeiro-ministro.
“Eu tinha, e tenho, um entendimento de que o País não merecia ser de novo chamado a eleições. Acho que o País merecia – num contexto em que vivemos, de tanta incerteza Internacional, com uma guerra que continua violentíssima na Ucrânia, com um conflito novo no Médio Oriente, as economias à escala global a retraem e em recessão – não só ter este orçamento aprovado, e vai ser aprovado, mas aproveitar a estabilidade que existe. E aproveitar esta ocasião também de, mudando o primeiro-ministro, mudar o Governo, renovar, dar nova energia, nova alma”, disse.
Aliás, pegando na mensagem de Marcelo (que relembrou que, na tomada de posse do Governo, há um ano e meio, avisou que caso Costa abandonasse o mandato a meio, por qualquer motivo, o País iria para eleições, porque os portugueses votaram na figura do líder socialista), o primeiro-ministro rebateu: “a vitória eleitoral foi do Partido Socialista; os mandatos parlamentares são os mandatos do Partido Socialista. Se o líder do PS contribuiu para o resultado eleitoral? Seguramente que sim; como cada líder partidário contribui para os resultados eleitorais dos respetivos partidos. Mas o único titular de órgão de soberania, que é objeto de uma votação pessoal, é o próprio Presidente da República”.
“As pessoas sabem que que no boletim de voto [nas legislativas de janeiro de 2022] estava lá a mãozinha do PS. Não estava lá a cara do António Costa”, frisou.
Sobre a descoberta de cerca de 75 mil euros no gabinete de Vítor Escária, o seu braço direito em São Bento, um dos factos ocorridos durante as buscas levadas a cabo na terça-feira pelas autoridades, o líder socialista disse que “é evidente que não sabia” e que “mal soube” fez o que “se impunha; que era demiti-lo”.