O Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) do Chega abriu um processo disciplinar contra Fernando Feitor, vereador na Câmara de Vila Verde (Braga), eleito nas autárquicas de 2021, pelo partido presidido por André Ventura – a ser confirmada a culpa, a pena, muito provavelmente, passará pela sua expulsão.
A denúncia, remetida para o órgão liderado por Bernardo Pessanha, “teve origem na participação efetuada pela distrital de Braga”, presidida pelo deputado Filipe Melo. De acordo com documentos a que a VISÃO teve acesso, a abertura deste inquérito é justificada com as críticas de Fernando Feitor dirigidas a Melo, publicadas no Semanário V, a 28 de janeiro de 2022.
O vereador da Câmara de Vila Verde tem, aliás, mantido um “braço-de-ferro” com os órgãos distritais e nacionais do partido. Em maio de 2022, o autarca já esteve suspenso (durante 30 dias) pela Comissão de Ética do Chega, depois de ter entrado em “choque” com a distrital de Braga e com o líder do Chega em Vila Verde, José Luís Moreira. Em setembro desse ano, surgiu mais um episódio que acentuou a rutura entre as partes, após Fernando Feitor ter anunciado o encerramento da sede do Chega em Vila Verde, após dois anos sem que a renda daquele espaço tivesse sido paga. O tom das suas críticas dirigidas à distrital e à direção nacional do partido aumentaram ainda mais: “Esperei quase dois anos pelo apoio que nunca tive, nem para a minha campanha eleitoral. Mesmo assim assumi as despesas e lutei pelo concelho de Vila Verde e pelos vilaverdenses”, afirmou.
Nessa altura, Fernando Feitor chegou a admitir que era “uma possibilidade” seguir o exemplo dos colegas vereadores municipais que tinham abandonado o Chega, passando a independentes. O autarca de Vila Verde pode, agora, ser o 8.º dos 19 vereadores eleitos pelo Chega, nas autárquicas de 2021, a abandonar o partido, agravando, assim, a derrocada autárquica do Chega, que a VISÃO já noticiava em novembro de 2022. O último “divórcio” autárquico no partido tinha sido protagonizado por Ana Moisão, vereadora na Câmara de Serpa, que, depois de se ter demitido da presidência da distrital de Beja, anunciou, no passado mês de junho, a desvinculação do partido, passando a independente.
Recentemente, Feitor voltou a “disparar” contra Filipe Melo, partilhando a notícia da VISÃO que dava conta que o deputado e líder do Chega de Braga tinha o salário penhorado por um colégio católico daquela cidade. “És a vergonha do Chega em Braga e no País (…) Não vales nada”, escreveu, no Facebook, Fernando Feitor, em relação a Filipe Melo.
Feitor acusa partido de querer afastá-lo das eleições
Fernando Feitor já respondeu à nota de culpa, enviada pelo CJN do Chega, classificando este processo disciplinar como “muito estranho” e “desfasado” do tempo, uma vez que os factos que lhe são imputados ocorreram há um ano e oito meses. Na nota de defesa, a que a VISÃO teve acesso, o único vereador do Chega no norte do país afirma que o inquérito “parece visar, propositadamente, o condicionamento direto e pessoal dos [seus] direitos de participação nas atividades do partido”, acusando diretamente de tentarem impedi-lo de concorrer às eleições para a distrital de Braga e para os delegados da próxima Convenção Nacional.
“Estas perseguições sistemáticas estão a produzir transtornos sérios na [minha] vida profissional, económica, familiar e política”, garante Feitor. O vereador de Vila Verde revela que desconhecidos o têm incomodado, e à sua família, com “alguns perfis falsos nas redes sociais, bem como [através] de chamadas anónimas de madrugada com insultos”.
Fernando Feitor conclui negando que “tenha causado qualquer prejuízo ao prestígio, ao bom nome, à credibilidade, honorabilidade e imagem pública” de Filipe Melo ou cometido qualquer outra infração disciplinar. Pede, por isso, que o procedimento “seja arquivado”.
A decisão do CJN deve ser anunciada nas próximas semanas.