Eram cerca das 20 horas, no passado sábado, 5 de novembro, quando Teresa Cantigas e José Raimundo receberam uma chamada telefónica de Paulo Raimundo. Ali, naquele instante, numa pequena casa da Rua da Areia, nas Praias do Sado, acharam estranho o tom de voz do filho mais novo que, do outro lado, foi muito objetivo sobre o motivo pelo qual lhes estava a ligar: “Mãe, antes que vocês saibam pela comunicação social, preparem-se que vou ser anunciado como futuro secretário-geral do partido. Daqui a, mais ou menos, uma hora, vão começar a ouvir notícias sobre isso. Tenham calma.” Passada a mensagem, Teresa engoliu em seco e José ficou entristecido, “até contrariado”, porque “ter um filho, de 46 anos, a receber um partido nas mãos, nas condições em que o PCP está neste momento, não é algo que se deseja”. Passada uma hora, tal como previsto, a Soeiro Pereira Gomes anunciava que Jerónimo de Sousa transmitira ao Comité Central – reunido desde as 11 horas da manhã – que pretendia sair e que o sucessor deveria ser Paulo Raimundo – um desconhecido para o País, mas um destacado dirigente com 30 anos de uma militância iniciada na Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e que desenvolveu sempre a atividade na sombra.
O nome do novo líder comunista ainda terá de ser aprovado pelo órgão máximo do partido, que volta a reunir-se neste sábado, 12 de novembro, após o fecho dos trabalhos do primeiro dia da conferência nacional: “Tomar a iniciativa, reforçar o Partido, responder às novas exigências”. Todavia, passou a maior prova de fogo ao levar a melhor sobre outros camaradas, que também terão sido indicados naquela reunião. “As bases não foram consultadas, mas agora é seguir em frente, porque não há a cultura do homem providencial no partido. É pena? É. Só que as pessoas têm de perceber que estamos a falar de alguém que só vai ser o porta-voz de um coletivo”, assinalou à VISÃO um membro do Comité Central, que, como muitos outros, foi apanhado de surpresa com a decisão de Jerónimo de não esperar pelo próximo congresso, em 2024.