Sem o apoio explícito dos senadores sociais democratas, Rui Rio investiu tudo nas bases. Um voto é um voto independentemente de quem colocou a cruz no papel. E se à frente das câmaras o líder do PSD insistiu que não queria perder muito tempo com a campanha interna, por considerar que o seu foco deveria estar nas legislativas antecipadas para 30 de janeiro, por trás há um pequeno exército de fiéis a fazer um discreto trabalho de campo. Em Lisboa, no Porto e em Braga, elementos ligados à candidatura de Rui Rio para as eleições internas de sábado, 27, têm-se reunido para ligar aos militantes, apelando ao voto e “aferindo o sentimento das bases, porque a aposta é claramente nas segundas linhas”, explicou à VISÃO fonte próxima de Rio.
É daqui que vem a confiança reforçada de Rui Rio nas últimas semanas. “Os call centers estão a trazer um feedback muito bom da militância de base. Estamos muito confiantes”, continua a mesma fonte, que indica ainda que, embora este método não seja uma novidade em eleições internas entre os sociais democratas, é um passo em frente na estratégia de Rio, muito conservador no que toca a delegar tarefas de comunicação a terceiros.
No Porto, é a partir de uma loja alugada na Rua das Artes Gráficas, em Ramalde, onde há anos existiu uma empresa de extintores, que a equipa de voluntários de Rui Rio dinamizou uma das três centrais telefónicas da candidatura destinada a apagar a “chama” de Paulo Rangel na corrida à liderança do PSD. Na coordenação está Matilde Alves, antiga vereadora da Habitação da Câmara do Porto no tempo em que o atual presidente do PSD chefiou a autarquia. Mas entre os tarefeiros de serviço há outras pessoas anteriormente ligadas aos executivos camarários de Rio.
Em média, são quatro ou cinco apoiantes que participam nas tarefas diárias, nem sempre os mesmos. “Toda a gente trabalha. Por isso, é quem estiver disponível e puder fazer uma perninha”, explica um dos elementos da equipa. Numa primeira fase, os telefonemas – quase sempre realizados via telemóvel entre as cinco da tarde e as 21 horas – dirigiram-se a pessoas cuja militância estava suspensa, aliciando-as a voltar ao partido. Seguiu-se depois a fase da pedagogia relativa ao pagamento de quotas em atraso. Nos últimos dias, passou a insistir-se no apelo direto ao voto em Rui Rio, pela positiva, sem ataques ao adversário e com forte incidência nos contactos em todas as freguesias da cidade Invicta e até algumas do próprio distrito, uma vez que o Porto é considerado decisivo para a vitória nas eleições internas. “Os militantes ainda têm muitas dúvidas sobre os locais em que podem votar, os horários, etc, mas as pessoas estão motivadas. No total, estaremos a caminho dos mil telefonemas”, referiu a mesma fonte.
A pensar no amanhã
Apesar do grande investimento de Rio ser nos militantes de base, a sua equipa não tem deixado de tentar trazer para o lado do atual presidente nomes sonantes. O mais recente “sinal de que estamos a fazer pontes”, como explica à VISÃO um dos elementos da campanha, é o nome de Luís Montenegro (que perdeu para Rio na segunda volta das últimas diretas, em 2020) como líder da lista de delegados da concelhia de Espinho. Ou seja, o argumento de que Rio precisava para defender a sua capacidade agregadora, a partir de domingo, caso consiga vencer Paulo Rangel e manter a liderança do partido.