Com as eleições internas no PSD marcadas para o próximo sábado, o tom de Paulo Rangel é como se de o principal opositor de António Costa já se tratasse. Na entrega da candidatura à liderança laranja, após ter recolhido muito mais assinaturas do que o atual presidente do partido [2600 face às 1700 de Rio], o eurodeputado assumiu que vai bater-se por uma maioria nas legislativas, para que não tenha de recorrer à estratégia de sobrevivência do PS – acordos de incidência parlamentar.
“Queremos um Governo com uma maioria estável para o PSD. Se estamos a apostar na formação de uma maioria, se queremos ser Governo para uma legislatura, que possa permitir reformas, temos de figurar apenas esse cenário – de vitória do PSD”, disse, na tarde desta segunda-feira, na sede do partido, na São Caetano à Lapa, ao lado de Poiares Maduro – responsável pelo futuro programa de Governo de um PSD liderado por Rangel – e acompanhado por vários apoiantes, como os ex-deputados António Leitão Amaro e Bruno Vitorino.
Rangel afasta a ideia de ter de andar a negociar soluções governativas, como a atual do PS com a esquerda que somente assegurou “uma gestão em modo de sobrevivência política”, disse. “A política, para quem a leva a sério, não é um tabuleiro de xadrez, em que andamos a fazer cálculos matemáticos para ver quem fica com o Governo”, defendeu, recusando a possibilidade aventada por Rio, de um eventual apoio ao PS em matérias importantes caso de derrota dos sociais-democratas nas legislativas. “O PSD não tem de ser o parceiro do PS; precisa de ser a alternativa ao PS”, disse.
Caso os portugueses não lhe deem a maioria do hemiciclo, o eurodeputado lembra que “já disse que havia uma linha vermelha, inultrapassável”, caso tenha de negociar com outras forças políticas. “Temos uma linha vermelha para o Chega, mas também para o BE e o PCP”, assegurou, já depois de ter frisado semelhante tese: “Não contamos com partidos radicais, sejam de direita, sejam de esquerda”.
Se o PS poderia vir a ser muleta do PSD, Rangel lembrou que, em 47 anos de democracia, nunca os sociais-democratas tiveram um retorno dos socialistas quanto a apoios dados em várias ocasiões. “Já houve vários casos em que o PSD viabilizou orçamentos do PS. Nunca sucedeu o contrário até hoje”, acentuou, estabelecendo quais os critérios quanto a uma futura gerigonça à direita: “no PSD há uma tradição social-democrata, uma tradição conservadora, uma tradição liberal, uma tradição social-cristã, e essas sensibilidades sempre estiveram aqui. Um partido de Governo é sempre abrangente e plural”.
Candidatura Rio usa meios do partido
Na moção estratégica que entregou ao presidente do Conselho de Jurisdição do PSD, Paulo Colaço, pouco antes das declarações aos jornalistas, há cinco vetores de medidas. Uma delas fala para dentro do partido: uma comissão de ética, cuja responsabilidade é analisar a integridade dos futuros candidatos do partido a órgãos de soberania. Uma proposta mais formatada, disse, que o badalado “banho de ética” com que Rui Rio se apresentou pela primeira vez, em 2017, na corrida ao PSD.
Para Rangel, uma comissão de ética integra-se num pacote de “reformas internas a fazer no partido com vista a melhorar” o seu funcionamento e “assegurar uma confiança com o eleitorado”. Por isso, sublinhou, “basta olhar para as duas expressões – “banho de ética” e comissão de ética – para se perceber a diferença”, explicou o candidato, que vai gastar cerca de 70 mil euros para chegar a líder da São Caetano à Lapa – mais do dobro do que Rio gastará [31 mil euros].
Porém, o eurodeputado social-democrata lembrou que Rio, por ser presidente do partido e poder ter acesso e empenhar meios que a sua candidatura não tem, acaba por gastar menos. “O candidato Rui Rio disse que ele próprio a faria [a corrida] numa dupla qualidade – na qualidade de candidato e na qualidade de presidente do PSD. Mesmo em termos de transparência de todas as contas – esses gastos [com meios do partido] não são imputados a nenhuma campanha”, atirou.