As perguntas são mais do que as respostas: a que velocidade seguia o carro do ministério da Administração Interna (MAI), no dia 18 de junho, quando chocou, na A6, contra um trabalhador das obras que estaria a atravessar a estrada? A obra estava ou não sinalizada? Porque ia o carro numa faixa da esquerda, sem trânsito? O ministro Eduardo Cabrita – que seguia no banco de trás do carro – não responde. Mesmo instado pelo Presidente da República, remeteu-se ao silêncio até à conclusão da investigação aberta pelo Ministério Público ao acidente. Fica apenas a garantia deixada por Marcelo Rebelo de Sousa, nesta quarta-feira: “Essa investigação não deve depender de saber se a A ou B ou C ia a conduzir, ao lado ou atrás do condutor. O que for apurado, é apurado”.
Cronologia dos acontecimentos
18 de junho: Um acidente e uma vítima
A informação sobre o acidente ao quilómetro 77 da A6 – que liga a Marateca à fronteira do Caia, em Elas (Portalegre), – chega às redações através de um comunicado do ministério da Administração Interna, onde se lamenta a morte de um cidadão (um homem de 43 anos), que realizava trabalhos de limpeza na berma da autoestrada.
Nas primeiras horas, fonte da GNR ainda chega a assegurar, ao jornal Observador e replicado nas televisões, que Eduardo Cabrita não seguia no carro. Notícia que viria a ser desmentida pouco depois. O ministro regressava de uma deslocação oficial a Portalegre. A tutela esclarece ainda, neste dia, que não se tratou de um despiste da viatura, que “circulava na faixa de rodagem, de onde nunca saiu, quando o trabalhador a atravessava”, e que a obra em causa não estava assinalada [versão que viria a ser desmentida pela Brisa, a 29 de junho].
18 de junho: Investigações em curso
No mesmo dia, o Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes de Viação da GNR de Évora deslocou-se ao local e abriu um inquérito, que ainda não está concluído, confirmou a Visão junto da GNR. Mas que deverá ter em conta a velocidade a que ia o carro do MAI (informação desconhecida para já). Outro dado que esta investigação deverá esclarecer é o facto de a viatura estar a circular na faixa mais à esquerda, quando havia pouco trânsito. É deste lado (o esquerdo) que ficou a marca da amolgadela no carro; sendo que o acidente aconteceu junto ao separador central. No entanto, não há câmaras de vigilância que o comprovem, uma vez que a câmara mais próxima localiza-se ao quilómetro 76.
Para além da GNR, também abriram inquéritos o Ministério Público, para apurar as circunstâncias da morte (procedimento habitual em acidentes rodoviários com vítimas mortais), e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para averiguar as circunstâncias em que foi prestado o socorro à vítima.
28 de junho: Oposição pede explicações
O líder do PSD, Rui Rio, pede esclarecimentos urgentes quanto ao acidente e responsabiliza o primeiro-ministro por aquilo que “vão sendo as falhas” de Eduardo Cabrita. Junta-se assim ao CDS, que pede a demissão do ministro, caso seja apurado que o carro onde seguia ia em excesso de velocidade.
29 de junho: Brisa garante sinalização da obra
Em comunicado, a empresa concessionária da autoestrada declara que – ao contrário do que a tutela referiu inicialmente – a “sinalização dos trabalhos de limpeza realizados na berma direita da A6 estava a ser cumprida pela ArquiJardim”, a empresa responsável pela intervenção, e que a sinalização estaria de acordo com “os procedimentos de segurança adequados”. Contactada pela Visão, a ArquiJardim reafirmou a sinalização da obra, mas não quis prestar mais declarações.
30 de junho: “Velocidade louca”
Um dos colegas da vítima, que assistiu ao acidente, descreve, ao Correio da Manhã, que o carro do MAI vinha com uma “velocidade louca”. A mesma testemunha garante que a sinalização estava feita e que o colega vestia um colete refletor, acrescentando que tanto o ministro como o motorista nunca chegaram a sair do carro.
30 de junho: MAI em silêncio
Questionado pela Visão sobre a velocidade a que seguia o carro e a garantia de sinalização da obra, por parte da empresa, o ministério indica que “não tem nada a acrescentar aos esclarecimentos públicos já prestados”. Pela hora de almoço, Cabrita é encurralado pelos jornalistas, no final de uma visita à Unidade Especial de Polícia, no concelho de Sintra, e estes pedem-lhe, mais uma vez, para comentar a evolução do caso, mas o ministro remete-se ao silêncio, apontando que não seria o “momento adequado”.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, que se encontrava ao seu lado, não deixa de comentar o caso, dizendo que espera pelas conclusões da investigação e deixa a garantia de que esta não será mais branda por estar envolvido um governante. “ Essa investigação, a meu ver, não deve depender de saber se a A ou B ou C ia a conduzir ou ao lado do condutor ou atrás do condutor. É apurado, é apurado, o que for apurado é apurado”, referiu.
01 de julho: “Ordem Superior”
Segundo o Correio da Manhã, quando os elementos do Núcleo de Investigação Criminal a Acidentes de Viação da GNR de Évora quiseram fazer novas diligências ao carro, foram impedidos “por ordem superior”. Os cálculos de estimativas feitas com base nos registos da Via Verde e das câmaras da A6 e a hora do acidente indiciam que o carro oficial do Ministro da Administração Interna circulava a uma velocidade média de 200 km/h.