Após vários tweets, que se intensificaram ao longo de terça-feira, em que relatou episódios de violência doméstica graves de que terá sido alvo em meados de 2015, Catarina Alves acabou por identificar o alegado agressor: o deputado Luís Monteiro, que entrou no Parlamento nas legislativas de 2015, na altura com 22 anos. A jovem, do Porto, já assegurou que, por mais do que uma vez, ficou com marcas físicas dos atos de agressão, tendo equacionado apresentar queixa às autoridades – mas nunca a concretizou.
Tais denúncias obrigaram o bloquista, já ao inicio da madrugada desta quarta-feira, 5 de maio, a publicar uma extensa defesa no Twitter, em que não só devolve as acusações, como aponta o dedo à ex-namorada, por ter replicado comportamentos ofensivos noutros relacionamentos que se seguiram. Com a tentativa de travar o efeito das denúncias, o assunto acabou por entrar para os Trend Topics daquela rede social.
“As lágrimas são só por não ter entrado na esquadra no dia em que fiquei à frente dela com o corpo marcado de cima a baixo, acabada de escapar duma quase morte”. Este foi apenas um dos tweets que Catarina Alves fez, aludindo ainda que estava a ser alvo de “rumores” e “insultos” por parte de um “nucleozinho” do Bloco de Esquerda, com vista a descredibilizar a sua história. “Andei a proteger o meu agressor para não perder amigos. Que grande burra. Homens ficam do lado de homens sempre”, disse a jovem, com quem a VISÃO tentou em vão falar.
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A alegada vítima relatou ao Público cenários de agressões extremas, onde se inclui o episódio em que terá sido projetada pelo deputado para fora do carro em andamento. “O Luís deu-me pontapés no corpo todo, cuspiu-me, arrastou-me pelos cabelos pela casa, deu-me estalos e perseguiu-me pela casa”, contou, assumindo que, por ter um transtorno de personalidade, a levou a considerar-se causadora das reações do deputado e manter-se calada até agora.
Apesar do período pré-eleitoral autárquico, em que o deputado do BE foi apresentado como candidato a Vila Nova de Gaia, a jovem faz questão de não apontar ao partido responsabilidades, onde diz existir militantes e dirigentes que ficaram desconfortáveis com este caso. Porém, “múltiplas pessoas dentro do Bloco de Esquerda souberam o que ele fez”, fez questão de realçar àquele jornal.
“Outros homens” tiveram o mesmo problema e de “forma muito dramática” com a queixosa, garante deputado
“Nunca agredi a mulher em causa, que foi minha namorada de fevereiro a outubro de 2015, e nunca agredi qualquer mulher”, reagiu o Luís Monteiro, no tal tweet ao início desta madrugada, em que alegou que foi “vítima de agressões sucessivas, violência verbal, ameaças”. “Fui sujeito a um processo do qual não saí ileso. Jamais contaria o que me aconteceu se não fosse obrigado”, refere, garantindo ter “testemunhas que presenciaram” a sua versão dos acontecimentos.
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Luís Monteiro refere também que sabe que “situação semelhante [em que Catarina Alves foi a agressora e não a vítima] foi vivida por outros homens que mantiveram relações com a mulher em causa, alguns de forma muito dramática”. Mais: o deputado lamenta que a exposição feita pela alegada vítima desmotive “todas as mulheres” que sofrem violência doméstica a queixar-se. A VISÃO contactou o parlamentar, de quem não teve nenhum comentário.
Este caso surge ao fim de mais de duas semanas, em que o movimento #metoo português ganhou uma notória expressão, após a entrevista da atriz Sofia Arruda – que denunciou um caso de assédio sexual nos bastidores da TV -, com várias mulheres a virem a público falarem dos episódios de assédio ou violência de que foram alvo.
Seis meses para apresentar queixa
Uma queixa de violência doméstica pode ser apresentada quer pela vítima, quer por outra pessoa que conheça a situação, junto do Ministério Público ou da PSP. Nos casos mais graves, em que é necessária hospitalização, a própria unidade de saúde tem de reportar o caso às autoridades. A vítima tem seis meses para apresentar queixa.
Por se tratar de um crime público, cuja pena de prisão pode ir até cinco anos, não há necessidade da formalização de uma queixa, já que o Ministério Público pode agir com base em suspeitas e denúncias.