O ex-presidente da Iniciativa Liberal (IL) Carlos Guimarães Pinto é a figura mais desejada pela direção do partido para entrar numa corrida às presidenciais de janeiro do próximo ano. Segundo apurou a VISÃO, o antecessor de João Cotrim de Figueiredo tem sido desafiado por vários dirigentes e militantes liberais a avançar, mas tem manifestado sérias reservas a entrar na disputa.
As démarches dos principais responsáveis da IL já tinham começado antes do folhetim da transferência de mais 850 milhões de euros para o Novo Banco, em que Marcelo Rebelo de Sousa ajudou António Costa a puxar o tapete a Mário Centeno – com o primeiro-ministro a pré-anunciar o empurrão do PS à recandidatura do Chefe do Estado -, mas os acontecimentos desta semana estão a acelerar as movimentações à direita.
A tese que vinga no núcleo duro dos liberais é a de que existe um fosso ideológico e programático entre Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura e que esse espaço pode ser ocupado, com um bom resultado, por um terceiro candidato, como sugeriu também, em declarações à VISÃO, Miguel Morgado, ex-deputado do PSD e antigo assessor político de Pedro Passos Coelho.
Contactado pela VISÃO, Cotrim de Figueiredo preferiu não comentar esse cenário. E Guimarães Pinto foi cauteloso. Apontou outras soluções, mas recusou utilizar a expressão que, em 1996, Marcelo Rebelo de Sousa enfaticamente celebrizou. “Nem que Cristo desça à Terra” será candidato presidencial? “Não vou responder isso”, afirmou, entre garagalhadas, o antigo líder do partido.
“A IL tem capacidade para encontrar um candidato. Sempre fomos capazes de ir buscar fora do partido pessoas para nos representarem. Funcionou muito bem com o Ricardo Arroja [cabeça de lista nas últimas europeias] e com o João Cotrim de Figueiredo. Tão bem que se tornou presidente do partido. Acredito que o partido irá encontrar alternativas que não têm necessariamente de ser internas”, vaticina o economista e professor universitário.
Guimarães Pinto realça que tem acompanhado com atenção as várias discussões que têm ocorrido dentro e fora de portas sobre as hipóteses a considerar pelo partido – que têm ido de Ricardo Arroja a Catarina Maia (número dois nas europeias e cabeça de lista em Coimbra nas legislativas), de Pedro Norton a João Miguel Tavares, passando por Miguel Morgado -, mas destaca um nome em particular, naquilo que parece ser uma OPA [oferta pública de aquisição] ao eleitorado do CDS: Adolfo Mesquita Nunes.
Fundamentação? “Ele é um dos liberais mais conhecidos do País e representaria bem este espaço político”, observa Guimarães Pinto sobre o antigo secretário de Estado, vice-presidente dos democratas-cristãos nos tempos de Assunção Cristas e principal rosto da corrente liberal do partido chefiado por Francisco Rodrigues dos Santos. Acerca dessa possibilidade em concreto, Cotrim de Figueiredo opta igualmente por não se pronunciar.
Na moção de estratégia global que apresentou na III Convenção, em dezembro, quando assumiu a presidência do partido, Cotrim de Figueiredo já indiciava que os liberais dificilmente estariam ao lado de uma eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. No documento, intitulado “Juntos a Liberalizar”, o deputado defendia que a IL deveria apoiar um candidato que fosse “reconhecido pelas suas tendências liberais, assim como por um temperamento mais recatado, e por uma atitude mais incisiva quando necessária”.
Implicitamente afastada, no texto aprovado na reunião magna dos liberais, ficou também a hipótese de a escolha recair sobre o próprio deputado único e líder da IL, que sempre recusou adotar um modelo de one man show.
Quanto a Guimarães Pinto, caso venha a ser candidato, tratar-se-ia o regresso, ainda que transitório à política ativa, depois de, no final de outubro, e após umas eleições em que não conseguiu ser eleito deputado (concorreu ao Parlamento através do círculo do Porto) ter decidido sair de cena, invocando razões de natureza pessoal. “Eu percebo a desilusão que alguns possam ter em relação a este anúncio, mas não me podem pedir mais. Não me podem pedir que continue a sacrificar a minha vida por uma causa. Foi um ano intenso em que tive que abdicar de muito para fazer este caminho. Fi-lo numa altura em que ninguém o teria feito. Criei as condições para que outros o possam fazer daqui para a frente com recursos que eu nunca tive e, espero eu, menos sacrifícios pessoais. Não me podem exigir mais”, escreveu no Facebook.
No que respeita à parte burocrática do processo, qualquer apoio careceria sempre da validação dos órgãos da IL. Embora os estatutos sejam omissos sobre presidenciais, o procedimento mais natural será que a Comissão Executiva proponha ao Conselho Nacional um nome que vá ao encontro do perfil traçado na moção de Cotrim de Figueiredo e que este, o órgão máximo entre convenções, o ratifique.