Fim de ciclo. Assunção Cristas encerrou este sábado, 25, os quatro anos de presidência do CDS, com um discurso num tom confessional, em que falou do caminho que percorreu, dos erros que cometeu, em que revelou nunca ter tido ilusões e em que até citou o Papa Francisco.
Na primeira intervenção de fundo do 28º Congresso, que decorre este fim de semana em Aveiro, a líder cessante levou o texto escrito e evitou as meias-palavras. “Cumpri o caminho traçado e a estratégia proposta, mas cumpre-me hoje reconhecer uma evidência: falhei o resultado. Falhei, porventura, a análise das possibilidades que se abriam com as novas cirscunstâncias políticas e os resultados ficaram muito aquém das minhas e das vossas expectativas”, sublinhou, dirigindo-se aos congressistas.
Ainda assim, não recuou na ideia de que durante demasiado tempo na legislatura anterior esteve muitas vezes isolada a fazer oposição ao PS e à geringonça, por ausência do PSD: “Mantivemo-nos firmes e com uma voz aguerrida, tanto mais que era evidente que nenhum outro partido em Portugal estava interessado em fazer oposição a sério e inequivocamente contra o caminho para o socialismo.”
Cristas, que após as autárquias de 2017 quis ocupar o lugar dos sociais-democratas e afirmar-se como candidata a primeira-ministra, lamentou, contudo, que não tenha sido suficiente fazer “oposição combativa, tantas vezes isolada, à má ação ou inação do Governo, com a saúde à cabeça”. Que não tenha bastado o voto contra a eutanásia e as barrigas de aluguer ou o “contrato permanente com as pessoas no terreno”, recordando a tragédia de Pedrógão Grande. Do púlpito, realçou que ouviu “muitas análises” ao que falhou e garantiu que tinha o seu próprio diagnóstico, mas explicou não ser o momento “nem o dia apropriado para dissecar os erros desse roteiro”.
Tudo fez para ter sucesso, assegurou. “E não me desiludi porque nunca tive ilusões e sempre soube que, em política, nunca se pode esperar reconhecimento”, desabafou, antes de citar o Papa Francisco para nota que sai de cena “consolada”, pois a política, “se implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminente de caridade”.
Pelo meio, Cristas lançou um apelo aos congressistas e aos candidatos à sua sucessão. Sem se imiscuir numa contenda que promete ser violenta, pediu “um debate assente nas ideias e nas pessoas”, “profundo, sério, leal e a olhar para o futuro”. O recado foi claro: que se evitem guerras fratricidas com todo o País a ver.