Em Pedrógão Grande, já são poucos os que tentam domesticar a revolta que há um ano, desde o trágico incêndio que lavrou a 17 de junho de 2017, os vai consumindo. Ao luto pela morte de 66 pessoas – contabilizando as perdas nos concelhos limítrofes – soma-se a indignação provocada pelos trabalhos de reconstrução e acumulam-se as denúncias contra dezenas de vizinhos que terão beneficiado de apoios indevidos. Os relatos, até este verão feitos em surdina e quase abafados pelo ruído de betoneiras, picaretas e serrotes, tornaram-se audíveis – e chegam acompanhados da cartografia das alegadas injustiças.
Na edição nº 1324, que foi para as bancas a 19 de julho, a VISÃO revelou os primeiros esquemas utilizados para fintar os regulamentos e que, conjuntamente, implicariam um desvio de meio milhão de euros – o montante poderá, afinal, ser substancialmente superior – de donativos destinados a obras urgentes para reconstruções de casas que não eram prioritárias – algumas não tinham residentes ou nem sequer arderam. O truque de alteração das moradas fiscais em datas posteriores aos fogos funcionou, mas agora o Ministério Público já tem em sua posse 113 processos de apoio (21 dos quais decorrentes do trabalho da VISÃO e de duas reportagens subsequentes da TVI).
Este é o sexto caso polémico:
Em Nodeirinho (freguesia da Graça), onde o Presidente da República inaugurou há três um memorial de homenagem às vítimas dos incêndios, Alfredo Tomás candidatou-se a um apoio para a reconstrução de uma casa na Rua do Outeiro, custeada pelo Revita no total de 88 839,60 euros. Para assegurar a concessão do auxílio, entretanto concluído, apresentou a certidão permanente do registo predial, a caderneta predial e a habilitação de herdeiros.
Em todo o caso, Alfredo Tomás, conforme testemunham os vizinhos, há muito que residiria com a mãe, Maria Susete Cruz, mas não no imóvel que ardeu – até porque esse já se encontraria substancialmente degradado. Os dois viveriam, como ainda acontece, de acordo com esses relatos, numa casa que é paredes-meias com aquela que viram ser reconstruída.
A tese de que Alfredo Tomás não teria aquela morada como primeira habitação ganha força, também, através do seu histórico nas Finanças: desde 18 de dezembro de 2010, terá residido em Belas, Sintra, tendo efetuado a última mudança somente a 31 de janeiro deste ano para Nodeirinho, meio ano após os fogos.