Pedro Passos Coelho entrou no hemiciclo de forma discreta, tentando fugir aos holofotes. Afinal, o dia da sua despedida era também o dia de uma estreia: a de Negrão à frente da bancada nos debates com o Governo. Talvez por isso o ex-primeiro-ministro tenha procurado o resguardo, sentando-se na penúltima fila de deputados. A discrição que procurava rapidamente saiu de cena. Ferro Rodrigues abriu o debate com uma nota de agradecimento ao ex-presidente do PSD que levantou as bancadas da direita e arrancou, inclusive, aplausos a alguns deputados socialistas.
Ao lado de Passos Coelho sentaram-se Luís Campos Ferreira e Marques Guedes, curiosamente dois dos nomes que eram apontados para suceder a Hugo Soares e que reuniam, entre os passistas, mais consenso do que o atual presidente do grupo parlamentar social-democrata. Atrás do ex-primeiro-ministro, sentados na última fila, mais passistas: Paula Teixeira da Cruz, que na semana passada foi a deputada do PSD que mais críticas deixou à leitura que Negrão fez dos resultados para a bancada, e Luís Montenegro, que também deixará a Assembleia da República e que se posiciona para ser candidato à liderança do partido no futuro.
Como fiel discípulo, Hugo Soares também ocupou um assento na retaguarda da bancada. Descontraído e falador, o antecessor de Fernando Negrão ia aplaudindo as intervenções do seu sucessor e de… Assunção Cristas. Ainda na última fila, um dos seus antigos vice-presidentes: Carlos Abreu Amorim, que assistia ao debate com um semblante mais carregado.
Quem, pelas fileiras traseiras, ia tentando animar os deputados era António Leitão Amaro. Um dos vice-presidentes da nova direção da bancada ora falava com Hugo Soares ora trocava impressões com os parlamentares que iam entrando e saindo do hemiciclo. Era, de resto, o único dos vice-presidentes de Fernando Negrão que não se encontrava na primeira fila – Margarida Mano, Rubina Berardo, Feliciano Barreiras Duarte, Adão Silva, Emídio Guerreiro e Carlos Peixoto ladeavam o novo presidente parlamentar do PSD, três de cada lado.
O deputado Bruno Coimbra, que subiu a Secretário-geral Adjunto do partido com a chegada de Rui Rio, ia saltitando entre as seis filas de deputados laranja. Tanto falava com passistas como com apoiantes de Rui Rio. Com ar discreto e austero, ia mantendo pequenas conversas com vários colegas. Quando parou, sentou-se próximo de Negrão, na segunda fila.
O debate ia a meio quando Luís Montenegro deixou o seu lugar para se sentar ao lado de Pedro Passos Coelho. Durante cerca de vinte minutos, falaram sem reservas e de forma expressiva. Os sorrisos foram poucos, mas também existiram. A longa conversa foi apenas interrompida durante uns segundos devido a uma nota de agradecimento que a líder do CDS-PP quis deixar antes de afrontar António Costa com o tema da saúde.
No final do debate, Fernando Negrão continuou na sala à conversa com alguns dos seus deputados e foi o último a abandonar o hemiciclo. Para trás ficava a sua estreia enquanto líder parlamentar do PSD, num debate em que o confronto com o primeiro-ministro foi descrispado.