“Os votos em branco significam o benefício da dúvida.” Foi este o argumento que Fernando Negrão usou para justificar a sua legitimidade enquanto líder da bancada. Dos 88 deputados que participaram nesta eleição, apenas 35 votaram no candidato único. No entender do novo líder parlamentar, “os 32 votos em branco” podem juntar-se assim aos favoráveis, reduzindo os opositores aos 21 votos nulos e conferindo-lhe a legitimidade necessária para ser o sucessor de Hugo Soares. “Sinto que tenho todas as condições para assumir [o cargo]”, afirmou. Este é o pior resultado de sempre nas eleições para este cargo.
Apesar de ter alcançado apenas 39% dos votos, Fernando Negrão recusou falar de uma derrota e disse mesmo que já estava à espera deste resultado. No entanto, houve algo que o surpreendeu. Dos 37 deputados que fazem parte das suas listas para direção – vice-presidentes, coordenadores e vice-coordenadores – houve pelo menos dois que não votaram no candidato. “Houve duas pessoas que aceitaram integrar listas da direção mas que votaram em branco ou nulo, o que, do ponto de vista ético, é uma atitude muito condenável”, declarou.
A questão da legitimidade jurídica também foi levantada. Segundo o regulamento interno da bancada,”a direção é eleita pelo método maioritário.” Esta formulação não deixa claro se a regra se refere a uma maioria absoluta ou a uma relativa. O novo dirigente do PSD entende que a leitura correta é a segunda. Assim sendo, neste caso, e por se tratar de uma candidatura única, “bastaria um voto” para que se pudesse considerar eleito. No entanto, há, na bancada laranja, quem interprete o regulamento de uma forma diferente. A hipótese de haver uma impugnação dos resultados parece distante mas se existir o ex-ministro de Santana Lopes garante estar “preparado para contestar.”
Aos jornalistas, Fernando Negrão tentou retirar a carga negativa aos resultados. Em primeiro lugar, “porque o partido vive um período de transformação”; em segundo, porque foi o “único candidato” a apresentar-se a eleições; em terceiro e último lugar porque, depois de uma conversa com Rui Rio, sentiu que tinha o apoio do presidente do PSD.
O resultado não é bom e espelha uma bancada pouco sintonizada com os novos protagonistas sociais-democratas. “Assumo parte dessa responsabilidade”, revelou. Ainda que haja sinais negativos, Fernando Negrão vai assumir a liderança da bancada parlamentar e a primeira reunião com os deputados acontece “já na próxima semana.” A unidade chegará nessa altura?