Nasceu em finais de setembro de 1961. Cresceu no Barreiro, onde começou a sua vida política, na Juventude Socialista, e a sua atividade de associativismo estudantil. No fim do liceu, rumou à capital e fez o seu percurso na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDL), onde conheceu António Costa. Uma amizade que dura e dura e dura…
Amigos desde…
Eduardo Cabrita é um ano mais velho do que António Costa. Quando o atual primeiro-ministro entra no edifício da FDL, já Cabrita se tinha destacado, entre os alunos e professores. “Foi um dos melhores alunos do curso”, recorda um ex-colega de faculdade. Mas não foi aí, nos corredores ou nos auditórios por onde também circulava (como professor) Marcelo Rebelo de Sousa, que se forjou a relação de Costa e Cabrita.
Associativismo e luta política
Ambos tinham passado pela JS (António Costa em Lisboa, Eduardo Cabrita no Barreiro), ambos tinham passado pelo associativismo estudantil nos seus tempos de liceu, ambos empunhavam com brio o seu cartão de militante do Partido Socialista.
António podia pertencer a uma certa elite política da capital e Eduardo ter crescido na margem sul, Costa ter vivido no meio de lutas políticas onde participavam a direita e as muitas esquerdas e Cabrita não ter conhecido muito mais do que a hegemonia comunista, mas as afinidades políticas naquele pós 25 de abril eram mais do que muitas. Pertenciam à mesma geração e tinham a mesma visão do caminho que queriam construir. Viveram tempos intensos, na Associação Académica da FDL, onde (sem sonharem) ensaiaram a atual geringonça. Chegaram a estar, disse Cabrita numa entrevista ao Observador, “com as forças independentes à esquerda. Tivemos no nosso quadro associativo pessoas como António Filipe”, histórico deputado do PCP. Parece ironia, mas a lista composta por António Costa, Eduardo Cabrita ou António Filipe perdeu para a da JSD, que se coligou com a Juventude Centrista, numa espécie de duelo (antes do tempo) entre a geringonça (que está no poder) e a caranguejola (nome que se chamou, durante uns tempos à coligação de direita entre Passos Coelho e Paulo Portas).
Do séquito de Soares Martinez
Cedo se distinguiu como muito bom aluno. Destacou-se particularmente em Direito Fiscal. Tanto que, apesar de ter crescido num bastião comunista, de fazer parte do PS e estar embrenhado no associativismo estudantil, acabou por fazer parte do séquito do Professor Soares Martinez. Mas como, se Soares Martinez era um fervoroso apoiante do Estado Novo, que chegou a ser ministro (da Saúde e Assistência) de Salazar? O Professor “gostava muito dele”, recorda um colega desses tempos, para quem este traço “distingue-o logo, valoriza-o, porque [Eduardo Cabrita] tinha de ser muito melhor do que os que não fossem de esquerda para que Soares Martinez o fizesse um dos dele.”
Foi assistente de Soares Martinez, acabou a Faculdade e entrou no Centro de Estudos Fiscais (a tropa de elite da Autoridade Tributária) antes de ir viver para Macau e, depois, mergulhar de vez na política.
Macau connection
No final dos anos 80, vai para Macau integrado na equipa de assessores recomendada por António Costa a Manuel Magalhães e Silva (dessa equipa, também faziam parte Diogo Lacerda Machado e Pedro Siza Vieira que, no sábado, 21, substituirá Cabrita no lugar de ministro-adjunto). Nessa altura, no iníco da carreira profissional dos dois, já era, portanto, do circulo mais íntimo, da maior confiança pessoal de António Costa.
Dessa altura, Magalhães e Silva recorda Cabrita como “a serenidade em pessoa”. E, olhando para todos estes anos, resume-o numa frase: “é tipicamente o português suave.”
Em Macau, cruzou-se com o ex-colega da faculdade Vitalino Canas, jogou futebol com Jorge Coelho e pôs-se a aprender chinês (mandarim). Estava à frente do gabinete de tradução jurídica. “É um workaholic profissional”, conta Vitalino Canas, para quem, para fazer o seu trabalho, Cabrita quis fazer esse esforço. “Sabe falar e escrever chinês”, garante, mesmo que hoje possa dizer que já não se recorda bem.
Por fim, a política
Regressou a Portugal a convite de João Cravinho, então ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território de António Guterres, que ainda hoje tem “muita consideração por ele. É muito competente, dedicado e sério.” Cabrita seria Alto Comissário da Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território (um nome pomposo para Alto Comissário para a Regionalização).
De resto, esteve quase sempre ombro com ombro com António Costa. No segundo governo de Guterres, foi Secretário de Estado-adjunto do ministro da Justiça (António Costa), numa equipa governativa que se completava com Diogo Lacerda Machado, nomeado secretário de Estado da Justiça. E no segundo governo de José Sócrates, Cabrita foi secretário de Estado-adjunto e da Administração Local, a convite do ministro de Estado e da Administração Interna… António Costa, obviamente. Entre estes três cargos (Alto Comissário e duas vezes secretário de Estado), esteve sempre no Parlamento, eleito consecutivamente (desde 2002) pelo seu círculo de Setúbal (o mesmo de Ana Catarina Mendes ou Pedro Marques, com quem partilhou lutas políticas a nível mais local).
Em 2015, quando Costa constituiu Governo, voltou a levar Cabrita para ao pé de si, no Palácio de São Bento. Será, mas apenas até sábado, o ministro-adjunto do primeiro ministro (com tutela sobre as Autarquias Locais, Cidadania e Igualdade). Não se sabe se manterá o assento nos encontros semanais (às terças) do núcleo de coordenação política do PM. Sabe-se que permanecerá no Conselho de Ministros, onde partilha a mesa não só com o amigo de longa data, mas também com a mulher, Ana Paula Vitorino, ministra do Mar deste Governo.