Carlos Fanado acabou ferido nos anos 60 na Guiné Bissau. Lembra-se ter sido a última grande emboscada que o PAIGC fez às tropas portuguesas, algures entre Piche e Nova Lamego. Olhando para trás, garante dever a vida a quem do ar chegou para o salvar.
Pilotos e enfermeiros assumiam riscos elevados para voar onde o inimigo era certo. Para os homens que estavam no chão, o som do helicóptero é ainda hoje inesquecível. Já lá vão 54 anos desde que o primeiro chegou às mãos do país.
Portugal recebeu, diretamente de França, o primeiro Alouette III a 25 de Abril de 1963, na Base Aérea n.º 9, em Luanda, 4 anos depois do voo do primeiro protótipo. Foram produzidos cerca de 2000 Alouette III, sendo utilizados por mais de 200 operadores militares e civis colocando Portugal no terceiro lugar da lista.
A aquisição deste helicóptero pelo estado português estava profundamente ligada ao momento histórico que o país atravessava, com o projeto ultramarino que Portugal ambicionava defender.
Na Guerra de África, o Alouette III tornou-se essencial nas operações de contraguerrilha, nomeadamente, na infiltração e na extração vertical dos combatentes do exército diretamente na área do objetivo, no transporte tático de tropas, como helicóptero de ataque ao solo ou nas evacuações sanitárias.
Muitos militares devem-lhe a vida. A sua chegada significava a possibilidade de chegar a tempo ao hospital. Era ainda o que transportava as noticias da familia. Pela versatilidade das suas configurações foi ainda utilizado nas missões de ligação e como posto de comando, para o reconhecimento e o apoio de fogo. Em África, Portugal chegou a ter 142 Alouette III disponíveis para qualquer missão decidida pelas chefias.
Ao longo da guerra, Portugal acabou por contribuir bastante para o desenvolvimento e evolução do helicóptero, um desenvolvimento reconhecido por parte da fábrica e dos outros países utilizadores.
Com o fim da guerra foi rapidamente reconvertido ao Teatro de Operações do espaço europeu: transporte tático, apoio aéreo ofensivo, busca e salvamento, evacuação médica e combate a incêndios. Todos os helicópteros regressam das ex-colónias. São divididos entre Tancos e o Montijo.
No inverno, com as cheias, retiraram muita população isolada e em dificuldades e nos meses de verão estavam espalhados por todo o País para socorrer náufragos e banhistas e missões de apoio ao combate a incêndios.
Ficarão ainda conhecidos para sempre pela sua Patrulha Acrobática, Rotores de Portugal, primeiro com quatro helicópteros e depois com três.
Marcaram ainda presença na missão humanitária em Timor-Leste.
Quem o operou, diz que é extraordinário, extremamente manobrável e fiável.
O Governo autorizou a compra de cinco helicópteros ligeiros para substituir a frota de Alouette III da Força Aérea Portuguesa, que opera há mais de 50 anos. A partir de 2018, a vida operacional do Alouette chega ao fim, ficando para sempre na história do país. Quando deixar de operar, terá sido até ao fim decisivo na formação de novos pilotos. Chamam-lhe a máquina, o zingarelho, a bolha. Promete deixar saudades entre pilotos, equipas de manutenção e antigos combatentes.
A Força Aérea Portuguesa celebra este ano o seu 65.º aniversário em várias localidades do distrito de Castelo Branco, com um festival aéreo, concertos, exposições e parada militar. Os pontos altos vão ser a cerimónia militar a 1 de julho, no Campo da Feira, e um festival aéreo no dia seguinte no aeródromo municipal, onde vão estar várias aeronaves em exposição incluído o Alouette III.