O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, “há três noites que não vai à cama”, relata o seu amigo Moita Flores, contactado esta segunda-feira, 19, pela VISÃO. “Está em desespero com este pesadelo”, diz o escritor, que todos os dias tem falado ao telefone com o autarca, desde que, no sábado, 17, o inferno do fogo se abateu sobre a região, causando 63 mortos e 136 feridos, no balanço que existe neste momento.
“O Valdemar está devastado”, ele que, na descrição de Moita Flores, “é sempre muito cordato, afável, afetivo – gosta mesmo das pessoas”. Diz ainda que “morreram amigos próximos dele” na tragédia do fogo.
O epicentro da cumplicidade entre Valdemar Alves e Moita Flores encontra-se na PJ, onde foram colegas ao longo de quase 40 anos. Moita no combate ao crime violento e Valdemar na investigação aos ilícitos económico-financeiros (leia-se burlas, abusos de confiança…). “Até na polícia era conhecido como o ‘R.P.’; conseguia dar-se bem com toda a gente”, recorda Moita Flores.
Quando, em 2005, o escritor foi eleito presidente da Câmara de Santarém, à qual se candidatou, como independente pelo PSD, desafiou Valdemar Alves para ser seu secretário. Já estavam ambos reformados da PJ e o convite foi aceite. “Eu não percebia nada de autarquias”, confessa Moita Flores, “e pedi ao Valdemar para me ajudar a topar os ‘golpes’ menos claros, de maneira a que não pusessemos a pata na poça – e ele tem um olho extraordinário para isso.”
Moita Flores indigna-se agora com a “patifaria”, como lhe chama, que recentemente o PSD local fez ao amigo e ex-colega na PJ. Em 2013, conta, o dirigente social-democrata João Marques, que tinha cumprido três mandatos e não podia recandidatar-se, convidou o conterrâneo Valdemar Alves a encabeçar, como independente, a lista do PSD à Câmara de Pedrógão. O antigo polícia aceitou e venceu as eleições com 56,5% dos votos.
Há pouco tempo, Valdemar Alves anunciou a sua recandidatura, nas próximas autárquicas, mas de seguida a concelhia de Pedrógão e a Distrital de Leiria do PSD impuseram João Marques, outra vez, como o candidato social-democrata à presidência da Câmara.
“Ele não é de golpes políticos e ficou com as calças na mão”, conta Moita Flores. Segundo o escritor, o argumento para retirar o apoio foi uma suposta “aproximação excessiva ao PS”, resultante de um convite ao primeiro-ministro, que António Costa aceitou, para inaugurar um equipamento no concelho.
Valdemar Alves pediu conselho a Moita Flores sobre o que fazer. “Disse-lhe para avançar, que os mandasse dar uma curva, porque ele não precisa do PSD, o PSD é que precisa dele”, descreve o escritor.
E, antes da tragédia do fogo, Valdemar Alves ponderava ou uma candidatura, como independente, pelo PS, ou à frente de um movimento de cidadãos. Mas, neste momento, não lhe falem disso. Nem ao de leve.