Ricardo Salgado, ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), começou a ser ouvido esta manhã no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) no âmbito do inquérito que tem como principal arguido José Sócrates e já foi constituído arguido por suspeitas de corrupção, abuso de confiança, tráfico de influência, branqueamento e fraude fiscal. Ao que a VISÃO averiguou, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira reuniu indícios de que o antigo banqueiro se terá servido do chamado “saco azul” do Grupo Espírito Santo para fazer passar milhões, através de vários intermediários, para o ex-primeiro-ministro. Porquê? A troco de quê? A principal suspeita recai sobre intervenções de Sócrates nos negócios da PT, Vivo e Oi. Recorde-se que José Sócrates usou a golden share para travar um negócio com a Telefónica. A PT acabaria por vender a Vivo por 7,5 mil milhões, comprar a Oi por 3,8 mil milhões. Sem a intervenção de Sócrates, a venda da Vivo seria feita por apenas 7,15 mil milhões.
Em Novembro de 2015, o nome de Ricardo Salgado estava apenas ligado aos casos Monte Branco e aos que nasceram da queda do BES e do GES. Nessa altura, a VISÃO avançou em primeira mão que o Ministério Público estava pela primeira vez a levantar a hipótese de que José Sócrates e/ou outros arguidos da Operação Marquês poderiam ter sido beneficiários do misterioso saco azul do GES e começava a acreditar que as respostas sobre uma parte do intrincado circuito do dinheiro envolvido no processo Marquês estavam na ES Enterprises, a empresa do GES com sede nas Ilhas Virgens Britânicas e que já estava a ser investigada nos processos do universo Espírito Santo por suspeitas de pagamentos não documentados.
Nessa data, o procurador Rosário Teixeira pediu ao Parlamento toda a informação recolhida sobre a ES Enterprises no âmbito da comissão de inquérito à queda do BES e do GES.
O elo que liga diretamente a ES Enterprise à Operação Marquês é Helder Bataglia, o empresário luso-angolano que confessou no Parlamento ter assinado um contrato com essa entidade em 2005 (alegadamente para ajudar em negócios de petróleo, minérios e imobiliário em Angola e no Congo). Bataglia, conhecido por ser uma espécie de ponta-de-lança dos negócios do GES em África, transferiria depois 12 milhões de euros para uma conta suíça de Joaquim Barroca, patrão do grupo Lena, dinheiro esse que terminou nas contas de Carlos Santos Silva, o empresário que o Ministério Público suspeita ser o testa-de-ferro de José Sócrates.
Desde a queda do BES e do GES que o Ministério Público investigava há meses a hipótese de aquela sociedade ter servido para o grupo liderado por Ricardo Salgado pagar bónus ou comissões a colaboradores e até a responsáveis políticos, num total que pode ter ultrapassado os 300 milhões de euros, e sem deixar rasto do ponto de vista contabilístico.
No início do mês, logo no dia 5, o Ministério Público ouviu Helder Bataglia, também arguido no processo. O ex-administrador e fundador da Escom já tinha sido ouvido em Angola em Agosto a pedido do DCIAP mas voltou a ser ouvido em Lisboa. Nesse interrogatório terá sido duramente confrontado com perguntas sobre o porquê de ter recebido aquele dinheiro da ES Enterprises e o porquê de o ter enviado para Joaquim Barroca.