Foi a CNN que colocou a questão: “Is Trump the Social media president”? Manuela Ferrer, Social Media Manager, lembra que tal como JFK foi o primeiro presidente televisivo, Obama foi o presidente pioneiro da Internet e interroga-se: “Estará o mundo preparado para conhecer o primeiro candidato eleito pelas redes sociais?” Segundo Manuela, Trump iniciou a corridar com 5 milhões de seguidores no twitter, “deixando uma classe política inteira meio perdida na velocidade alucinante de quem domina a comunicação das redes sociais”.
E recorda a afirmação de Scott Adams, criador do cartoon Dilbert: “Durante muitos anos, estudei técnicas de persuasão e quando vi Donald Trump, pensei ‘Meu Deus, ele não é apenas um palhaço! Tudo o que ele faz, inclusive a sua total ignorância dos factos, é a perfeita persuasão’. Trump começou, efectivamente, a corrida utilizando as melhores práticas da redes sociais: criando engajamento e relacionamento com as pessoas”.
Para Manuela Ferrer, as primárias da corrida à presidência americana, marcam uma mudança de paradigma da comunicação em campanha eleitoral. “Trump escreveu e ditou as regras: e o non sense e os temas bombásticos refletem claramente o aumento da sua popularidade”.
Por outro lado, o que se mostra é o que se tem: ” A imagem que os candidatos americanos mostram é totalmente coerente com aquilo que dizem”. Sinal, diz a consultora, de “autenticidade”. Nos EUA, todos os candidatos utilizam o FB, o Twitter e o Instagram com várias publicações diárias, mostrando a popularidade, a alegria na campanha, a força dos seus discursos e a ligação que têm com os seus seguidores.
Ted Cruz, que já não está na corrida, era o único candidato cujo site não tinha qualquer ligação às redes sociais. “Não se pode dizer que foi esta a razão que afastou Ted Cruz da corrida, mas o peso das redes sociais fez, sem dúvida, uma enorme diferença”, afirma.
“Existe toda uma estrutura montada e uma equipa de especialistas capazes de comunicar, escrever, fotografar, filmar e publicar. Não há amadorismo na imagem que se pretende passar nem erros de principiante. Tudo o que é publicado foi estrategicamente pensado, mesmo os momentos supostamente espontâneos da campanha”. Como por exemplo, refere, o vídeo em que Hillary Clinton, impede que dois jovens, em tronco nu, sejam forçados a sair do seu comício: ” Isto cria laços, sorrisos e mostra tolerância. E o que aparece deste comício nas redes sociais? Esses 60 magníficos segundos…”
Em Portugal: Amadorismo e erros de principiante
E os políticos portugueses, tendo em atenção a aproximação das eleições autárquicas, em 2017, já estarão a preparar-se para este novo paradigma? Segundo Manuela, esta fase pré-campanha é a ideal para “o trabalho de criação de laços, de engajamento e de partilha de opiniões”.
O problema, explica, é que os políticos portugueses, sendo figuras públicas entendem que podem manter “perfis pessoais”, onde, em vez de fãs/seguidores, têm “amigos”: “Quando as emoções e a precipitação imperam nas publicações, nas respostas, nos comentários e na gestão do seu próprio facebook, as consequências podem ser desastrosas”. E cita o caso João Soares (que anunciou a intenção de dar bofetadas a Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente e este post ditou a sua demissão de ministro). “É evidente aqui a necessidade de separar as águas. Uma figura pública tem de ter algum cuidado extra com a imagem, com aquilo que passa para o exterior. Tem de haver uma estratégia e uma planificação de ações. Publicar diariamente, e várias vezes por dia, fotografias e pequenos textos que têm mais a ver com o foro privado do que com o público é arriscado”.
E acrescenta: “É necessário cumprir algumas regras: os amigos escolhem-se. Depois temos os conhecidos e as pessoas com quem nos cruzamos na rua e a quem acenamos, sorrimos e cumprimentamos”. Segundo explica, existe uma diferença entre perfis pessoais e perfis públicos: “Os políticos têm de conhecer estas diferenças, para que não haja equívocos, precipitações ou erros”. Na sua opinião, uma figura pública que tenha um perfil público deveria entregar a gestão dos conteúdos e das respostas a uma equipa de profissionais. “É importante não deixar que as emoções tomem conta daquilo que se pretende dizer “. Um Social Media Manager tem tempo e distanciamento para analisar a forma, o conteúdo, a linguagem e o impacto daquilo que vai dizer. “Claro que surgem ‘inesperados’, momentos que podem e devem ser publicados na hora – o facebook permite os momentos ‘live’ – mas mesmo esses devem ser avaliados. Valerá a pena o risco?”
Cada vez mais o Facebook se tornou fonte de informação para notícias nos meios de comunicação e “não pode haver um político, uma figura pública ou alguém que desconheça este facto. Os jornalistas são ávidos leitores das páginas de facebook, twitter ou instagram dos políticos, porque sabem que ali encontram notícias. Se os políticos entregassem a gestão das suas redes sociais a profissionais da área, não haveria fugas de informação, deslizes ou precipitações”.
Fatal para um político na era das redes sociais é “ser banal e desinteressante. É não ter uma estratégia e não saber exatamente aquilo que se quer e onde se quer chegar. É ignorar a voz dos leitores, não respondendo ou respondendo de forma errada. É probido permitir discursos de ódio ou de violência nos comentários. É proibido não ser autêntico e não criar laços”.
Políticos portugueses com página oficial
-Rui Moreira – mais de 105 mil fãs
-Catarina Martins- mais de 45 mil fãs
-Nuno Melo- mais de 14 mil fãs
-António Costa – mais de 45 mil fãs
-Marisa Matias – mais de 46 mil fãs
-Fernando Medina – mais de 10 mil fãs