“Pareceria desproporcionado estar a comparar-me com o Papa”, disse Marcelo, a residência do embaixador de Portugal junto da Santa Sé, onde se encontrou com os membros do clero portugueses residentes em Roma.
“Seria desproporcionado”, mas não absurdo. E não apenas por serem ambos profundamente católicos.
Francisco foi aquele que, eleito sucessor de Pedro em março de 2013, telefonou para Daniel del Regno, dono do quiosque onde costumava comprar os jornais, em Buenos Aires, a agradecer (e cancelar) a entrega dos diários, e a desejar felicidades para toda a família. Daniel não queria acreditar que o Papa (que se identificou como “cardeal Jorge” Bergoglio) lhe estivesse a ligar pessoalmente.
Marcelo também é homem de pequenos gestos que marcam alguma diferença. A 1 de março, oito dias depois de ter sido eleito e oito dias antes de tomar posse como Presidente da República, foi ao Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro cumprir uma promessa feita durante a campanha eleitoral: brindar a sua vitória, à primeira volta, com Maria da Glória Mendonça, de 89 anos. O brinde foi feito em copos de plástico, com bagaço levado por Marcelo. Marcelo é também o Presidente que, apesar de todos os problemas técnicos com que se deparou, falou em direto para a rádio Comercial, no dia do seu 37º aniversário, para desejar os parabéns e recordar que também tinha sido colaborador da estação.
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Francisco e Marcelo são ambos homens simples. E um pouco espartanos. O Papa, que anda de sapatos bem usados, pretos (que contrastam com os encarnados usados por Bento XVI); manteve ao peito a sua cruz de metal, preferindo-a à de ouro, a dos Papas. Quis pagar a sua estadia no hotel onde ficou hospedado, durante o conclave que o elegeu, andou de autocarro com os demais bispos, em vez de usar o seu carro papal e, não raras vezes, junta-se à multidão, para abençoar uma criança ou beijar uma pessoa com deficiência.
Marcelo também tenta reduzir as mordomias ao máximo. A ida a Roma foi feita em voo comercial e não no falcon da Força Aérea portuguesa, e a sua comitiva foi reduzida. Desafiando a segurança e o protocolo, gosta de andar a pé sozinho pelo centro da cidade e visitar exposições (como a da VISÃO, em pleno Largo Camões) como se fosse um cidadão comum.
Se é desproporcionado comparar os dois chefes de Estado? Talvez. Mas, ao menos no estilo, talvez não seja absurdo.