“Os sonhos de poder só são dignos de mentes medíocres e pequeno-burguesas. O meu sonho era muito maior: Acabar com a carreira política do Martelo. Vinguei a vichysoise com uma taça de veneno. Já posso morrer descansado”, confidenciava Paulo Tortas (Paulo Portas) a Pobre Guedes (Nobre Guedes), na velhinha Contra-Informação. Que saudades…!
Na vida real, é claro que nem os sonhos de poder são apenas dignos de mentes medíocres – são dignos de todo o tipo de mentes –, nem o sonho de Portas era acabar com a carreira política de Marcelo – que acabou por apoiar, nas últimas eleições Presidenciais. Não se sabe ao certo como vingou o episódio da vichysoise, mas com uma taça de veneno não foi, certamente. E se Portas se recolheu, não terá sido para morrer descansado – no máximo, foi para descansar dos anos que passou imerso na política.
Paulo Portas começou cedo. Aos 13, filiava-se na JSD e aos 17 no PSD. Pouco depois, já se cruzava com Marcelo Rebelo de Sousa. Em 1982, pedalavam lado a lado, na campanha que levaria Helena Roseta à presidência da Câmara Municipal de Cascais, pelo PSD. Portas sairia do PSD nesse mesmo ano. Roseta fá-lo-ia três anos mais tarde, para apoiar Mário Soares à Presidência. Marcelo é o único que se mantém no seu partido de sempre.
Mas os seus caminhos não deixariam de se ir cruzando. Palmilharam as mesmas áreas, mesmo que em momentos diferentes. Foram ambos jornalistas – Portas no Independente, Marcelo no Expresso e no Semanário. Portas trocou o jornalismo pelo CDS, Marcelo (que é professor universitário de carreira e de facto) trocou-o pelo comentário político. No final dos anos 90, cada um à frente do seu partido, tentaram ressuscitar a Aliança Democrática, sem qualquer sucesso.
Ambos foram candidatos à Câmara de Lisboa, ambos voltaram com a palavra atrás – Portas garantiu que ficava na Câmara e se demitia do governo; Marcelo disse que nem que Cristo descesse à Terra seria candidato à Presidência do PSD.
Seguiram cada um o seu caminho. Agora, a história volta a cruzá-los. Marcelo, que há anos anda arredado da política executiva, tomou posse como Presidente da República no dia 9 de março. Portas anunciou, nos últimos dias de dezembro, que não se recandidataria a novo mandato, à frente do CDS e que renunciaria ao cargo de deputado. No passado fim de semana, passo testemunho a Assunção Cristas.
Onde se cruzarão, daqui por diante? “Qualquer especulação superior a seis meses é, no mínimo, um atrevimento”, disse Portas, naquele que ele quer que fique registado como o seu discurso de despedida da política.