Joaquim Oliveira ‘tramado’
O presidente do FC Porto deixou-se encantar, a partir da década de 1980, por um desenvolto rapaz nascido em Carrazeda de Ansiães, que emigrara com a família para o Luxemburgo ainda pequeno e que, no Grão-Ducado, enquanto ajudava a pagar as contas domésticas pintando carros numa oficina, e à noite estudava para concluir o 9.º ano, fundou ali um clube em honra dos dragões, a sua grande paixão. Pinto da Costa, mais do que a mão, deu-lhe um braço inteiro: referenciou-o a Joaquim Oliveira, para que este entregasse a Veiga a liderança da Futeinveste. Dois anos depois, em 1994, emancipou-se e, para óbvio desagrado de Oliveira, agarrou na carteira de clientes que tinha na Futeinveste e avançou para a sua própria empresa de agenciamento de futebolistas, a Superfute. Conseguiu logo concretizar dois bons negócios: levou Fernando Couto do FC Porto para o italiano Parma por €3,1 milhões, e Paulo Sousa do Sporting para a Juventus de Turim por €2,3 milhões.
‘Damásio amigo, conto contigo’
Em 2003, José Veiga dizia que precisava de controlar um clube para ter uma montra dos futebolistas que representava, com vista a colocá-los noutras paragens em bons negócios. Serviu-lhe para o efeito o amigo Manuel Damásio, que lhe vendeu o pacote de ações, a troco de €766 mil euros, de que o empresário precisava para possuir 70% da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) do Estoril-Praia, direta e indiretamente (aqui através de duas empresas, uma das quais a Superfute, cotada até na Bolsa livre de Paris). Agora, passados pouco mais de 12 anos, aquele ex-presidente do Benfica viu o seu escritório, em Cascais, ser alvo de buscas, na operação Rota do Atlântico, por suspeita de alegadamente branquear verbas obtidas por Veiga nos seus negócios congoleses sob investigação, no caso, supostamente, através da Ónus, empresa de investimentos imobiliários que junta, como sócios, Manuel Damásio, Godinho Lopes, antigo presidente do Sporting, e o brasileiro Filipe Resnikoff.
2006, o ‘annus horribilis’
José Veiga tocou o céu quando conseguiu, em 2000, a transferência de Luís Figo, do Barcelona para o Real Madrid, por €37 milhões, e de Zidane, em 2001, da Juventus para o clube galático, por €75 milhões. Como agente FIFA, recebia entre 6% e 10% do valor da transferência. Também trouxe, em 2001, Mário Jardel, do Galatasaray para o Sporting, por €5 milhões. Era o dono daquilo tudo e o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, em maio de 2004, apresentou-o na Luz como diretor-geral da SAD do clube. Houve uma conquista: o Benfica ganhou o campeonato nacional (época 2004/2005), após um jejum de 11 anos. Até que, em novembro de 2006, Veiga caiu em desgraça, sendo obrigado a demitir-se. Uma juíza de Cascais deu razão ao banco luxemburguês Dexia, que reclamava de Veiga €1,5 milhões de créditos não pagos, ordenando um arresto de bens do empresário. Seguiu-se outra penhora, esta feita pelo Fisco, que lhe atribuía, à época, dívidas superiores a €2,5 milhões.
Polícia à porta
Logo após a sua saída da Luz, foi uma manhã acordado por inspetores da PJ, que o detiveram e levaram para o Tribunal de Instrução Criminal. Veiga era suspeito de, em 2000, se ter apropriado indevidamente de €4,2 milhões na contratação de João Vieira Pinto pelo Sporting. Saiu com o pagamento de uma caução de €500 mil e entrega do passaporte. Em setembro de 2012, seria condenado a dois anos e dois meses de prisão, com pena suspensa, por fraude fiscal, e a três anos e nove meses, por branqueamento de capitais. Recorreu para a Relação de Lisboa que, em julho de 2013, o absolveu. Sobrou tudo para João Vieira Pinto, que teve de pagar €700 mil ao Fisco para evitar um ano de prisão. Veiga ainda tentou renascer das cinzas em Londres, procurando adquirir um clube do Championship (a II Liga inglesa), projeto que falhou. Mas estava prestes a surgir o maná do Congo-Brazzaville – que foi uma bênção enquanto durou.