Se o seu inglês está enferrujado, se o seu francês nunca foi grande coisa ou se, pura e simplesmente, não consegue aprender alemão, dentro de três décadas poderá conseguir esse objetivo sem aulas e sem estudos. Aprender línguas pode estar à distância da simples ingestão de um comprimido. É pelo menos essa a previsão de Nicholas Negroponte, cientista norte-americano e professor do Media Lab, o laboratório de multimédia do Massachussets Institute of Technology (MIT). Numa entrevista ao El País, o professor do MIT defende que no espaço de 30 anos será possível “ingerir” línguas, porque será possível transmitir conhecimentos através da corrente sanguínea.
“A melhor maneira de aceder ao cérebro é através da corrente sanguínea com nanorrobôs. Assim poderemos aprender línguas simplesmente tomando um comprimido”, explica o cientista que há mais de 30 anos se dedica a estudar o futuro tecnológico. “O que será a informação no futuro? Não terá de usar apenas os olhos, os ouvidos, o nariz, as experiências normais, tocar algo, escutar algo, mas introduzir coisas diretamente no cérebro.”
A ideia de Nicholas Negroponte foi apresentada pela primeira vez numa palestra das conferências TED, em Vancouver, em Julho de 2014. “Prevejo que seremos capazes de ingerir informações. Vai engolir um comprimido e aprender inglês. Vai engolir um comprimido e ler Shakespeare.”
Parece-lhe demasiado absurdo para ser verdade? O melhor é dar o benefício da dúvida. É que Nicholas Negroponte não tem falhado nas previsões.
Em 1984, rodeado de papéis e de um simples projetor, atreveu-se a vaticinar que num futuro não muito distante deixaríamos de trabalhar com um rato e passaríamos a usar os dedos para controlar os computadores. Teríamos ecrãs táteis e teleconferências. Depois, acoplou câmaras a um camião para explicar como poderia ser desenvolvido um mapa, uma espécie de versão embrionária do Google Street View. Já em 1995, adivinhou que em breve deixaríamos de comprar livros e jornais para passar a lê-los online através de um ecrã.
Quase todos foram céticos: os ecrãs ainda eram de baixa resolução e temia-se que os dedos os sujassem.
“Muitos dos chamados futurólogos, muitos deles meus amigos, lêem muita documentação. Eu pratico”, explicou ao El País.
Nicholas Negroponte fundou o MIT Media Lab, considerado hoje um dos principais centros de inovação do mundo. Foi ainda o principal idealizador do projecto internacional “One laptop per child” (um portátil por criança), que pretendia a inclusão digital das crianças em países em vias de desenvolvimento através de um portátil de baixo custo: o projeto conseguiu levar mais de 3 milhões de portáteis a crianças desses países.
Negroponte tem sido um incansável defensor da educação, da inteligência coletiva, da computação e da conectividade. Acredita que serão determinantes para resolver os grandes problemas do planeta.
“Hoje em dia, mais importante que os portáteis, é a conectividade. Todos os grandes problemas do planeta, desde a distribuição dos alimentos, à erradicação da pobreza, beneficiam da conectividade e da computação. A educação sempre fez parte da solução mas outra coisa que é importante é que temos aprendido que a inteligência coletiva é melhor que a individual. É assim nas empresas, nos governos, nos serviços sociais. É possível produzir alimentos sem terra, perfeitamente saudáveis e robustos, que crescem muito depressa. Isso muda por completo o conceito. Pode-se produzir carne sem uma vaca, só com o ADN de uma vaca. Ideias como estas eram impensáveis há dez anos. Hoje podemos usá-las para resolver problemas gravíssimos.”