José Carlos Abrantes, 68 anos, exerceu as funções de provedor do Telespectador da RTP, entre 2 de maio de 2011 e a atualidade. Foi também provedor dos Leitores do Diário de Notícias entre 2004 e 2007. Foi professor universitário e é investigador na área dos media. A sua última obra, Nós, os Leitores, foi publicada em 2008, pelas Edições 70.
Ouviu, no programa do provedor, o ex-presidente da ERC Azeredo Lopes, apoiante do candidato à Câmara do Porto Rui Moreira, sobre uma entrevista dada à RTP pelo também candidato àquela Câmara Luís Filipe Menezes, que logo lhe apresentou um protesto, com conhecimento ao presidente do Conselho de Administração do canal público. Terão estes factos alguma coisa a ver com a decisão de Alberto da Ponte de não renovar o seu contrato?
Espero que não tenha sido o caso, pois isso seria um indício muito preocupante de intervenção política na RTP! E verdade que a minha não-renovação me foi comunicada uns dias após a emissão de um Voz do Cidadão em que entrevistei o dr. Azeredo Lopes, antigo presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Soube, por ele, momentos antes de a entrevista se iniciar, da sua adesão à candidatura do dr. Rui Moreira. Mas prossegui, pois a minha escolha tinha sido determinada pelos seus dois mandatos na ERC. Na semana seguinte, o dr. Luís Filipe Menezes telefonou-me, enviou um fax e uma carta a lastimar esta entrevista. Sabe-se que existem ligações fortes entre o dr. Menezes e o Ministério de tutela da RTP, mas ignoro se houve qualquer interferência.
Na sexta-feira da mesma semana, reuni com o presidente da RTP, dr. Alberto da Ponte, que me informou ser contra a renovação dos mandatos dos provedores, escolha legal, justificável e que percebo. Nada foi referido acerca dos convidados do programa Voz do Cidadão. Não posso, assim, estabelecer qualquer relação entre a minha saída e o referido programa.
(veja aqui o vídeo da entrevista)
Quais as principais queixas dos telespectadores em relação aos programas de informação da RTP?
Na segunda quinzena de março, recebi 195 e-mails contra a presença de José Sócrates como futuro comentador da RTP. Foram muito poucos os que se afirmaram a favor. Recebi desde janeiro correio contra a mudança de horário da informação da RTP 2, e também sobre a tradução em língua gestual ter passado para a meia noite, acompanhando as notícias da 2 e ainda sobre o tratamento das notícias internacionais. O programa Voz do Cidadão tem dado conta das críticas mais salientes. Além disso, os meus relatórios de 2011 e 2012 fazem uma análise sistemática e podem ser consultados no site da RTP.
Que constrangimentos enfrenta, no desempenho das suas funções, um provedor dos telespectadores?
Estou certo de que os diretores fizeram o melhor na sua ligação com o provedor. No entanto, algumas perguntas suscitadas pelas críticas dos telespectadores ficaram sem resposta ou só tiveram respostas após penosas insistências.
Gostaria de ter feito mais programas sobre educação para os media, seguindo o percurso das notícias, explicando como se constrói a agenda do dia ou como são escolhidas as aberturas e os fechos dos telejornais, por exemplo. Porém, não houve abertura da anterior direção de Informação para rumar neste sentido.
Qual é o seu legado?
Procurei introduzir mais diversidade e dinamismo no Voz do Cidadão e dirigir-me a um público mais jovem, indo, inclusivamente, a universidades e escolas. Essa orientação também se pode verificar na abertura de uma página no Facebook e da abertura de uma conta no Twitter. Foram dois auxiliares exigentes, mas de grande relevo, nestes dois anos.
Os meus programas procuraram refletir diversos posicionamentos e foram feitos com a participação decisiva dos telespectadores e dos especialistas convidados. A RTP, também se exprimiu sempre que necessário, através de diretores, jornalistas e colaboradores.