O ucraniano Georgiy Sudakov já era considerado um dos novos talentos no mundo profissional do futebol e, com apenas 19 anos, o futuro já parecia promissor: o seu contrato com o clube Shakhtar tinha recentemente sido renovado e a sua primeira filha com a mulher, Liza Sudakova, estava prestes a nascer. Tudo parecia correr bem até Sudakov e a sua mulher se verem obrigados a pôr as suas vidas em pausa para se protegerem de uma guerra que ocupou o seu país.
A história do jovem jogador ficou conhecida depois de uma publicação feita pelo seu ex-treinador, Fernando Valente, nas redes sociais. O treinador colocou duas fotos do casal, com apenas um mês de diferença, lado a lado. A realidade de ambas é, apesar do curto espaço de tempo que as separa, radicalmente diferente: os sorrisos são substituídos por caras sérias e a confortável casa por uma sala fria e escura.
O treinador português trabalhou com Sudakov quando este era ainda da equipa sub-21 do Shakhtar e já nessa altura lhe reconheceu um “potencial enorme”, conta em declarações à Lusa. “Foi o maior talento que treinei”, admitiu o treinador, que elogiou o jogador não apenas pelas suas capacidades futebolísticas, mas também pela pessoa que é, descrevendo-o, inclusive, como “um ser humano fantástico” na sua conta de Twitter.
As duas fotografias foram publicadas a partir do telemóvel de Valente, onde ainda as guarda, conta à Lusa. “No telemóvel, guardo uma foto anterior ao conflito dele e da namorada, que está grávida, felizes da vida, e há pouco tempo enviou-me outra deles enfiados num bunker e tristes. Sempre que revejo, vêm-me as lágrimas aos olhos”.
No Instagram, Valente escreveu estar de “coração apertado” não só com toda a situação na Ucrânia, mas com a realidade agora vivida por Sudakov, um dos jogadores com quem mantém “ligações mais fortes” e cujo potencial promete grandes feitos junto de equipas como o “FC Barcelona ou o Manchester City” que “pensam o jogo noutra dimensão”, algo que o treinador reconhece que Sudakov também faz, como explicou, em declarações à CNN, numa entrevista que publicou no seu Instagram.
O futuro promissor do jovem jogador é agora roubado “por uma guerra sem sentido”, escreve também no Instagram o treinador. Numa outra publicação na qual aborda a situação de Sudakov, Valente mostrou-se, no entanto, esperançoso de que “o melhor ainda está para vir” até porque “eles merecem”, garante.
Outras figuras do futebol como o ex-árbitro Duarte Gomes partilharam a publicação de Valente nas suas próprias redes sociais. À descrição do treinador, Gomes acrescenta ainda: “A moral desta história é, para mim, muito simples: Nunca devemos dar nada como garantido. Nada mesmo. O que é certo hoje, pode ser muito incerto amanhã. Valorizar o presente, porque esse é o momento que vivemos. PS – Um forte abraço ao mister, que tem o coração no lugar certo”.
Fotos publicadas tanto pelo jogador como pela sua mulher esta quinta-feira indicam que estarão em segurança e, embora não façam nenhuma referência direta ao conflito, Lisa Sudakova publicou no seu Instagram um conjunto de fotos da sua gravidez acompanhadas da descrição: “A única coisa que traz alegria agora”.
Residente em Kiev, o jogador e a mulher viram-se forçados a esconder-se num bunker quando os alertas da guerra começaram a surgir. Atualmente, o casal já fugiu da capital e encontra-se em segurança na cidade de Lviv, mas tem intenções de sair do país. Também na mesma cidade estão, de acordo com a SIC, outros dois jogadores treinados por Valente, Bondarenko e Mudryk.
“Felizmente, outros 15 jogadores que treinei no Shakhtar, e que agora representam o Mariupol, estão fora do país, uma vez que realizavam a pré-temporada na Turquia, após a pausa de inverno, quando a guerra começou”, admitiu, satisfeito, o treinador, também em declarações à Lusa.
A equipa de Sudakov, FC Shakhtar Donetsk, faz parte de um esforço para transformar a Arena Lviv num abrigo de refugiados para milhares de pessoas afetadas pela invasão russa na Ucrânia. Segundo o Operational Data Portal, “uma plataforma de compartilhamento de informações e dados para facilitar a coordenação de emergências de refugiados”, como explica o próprio site, mais de 3 milhões de refugiados foram deslocados desde o começo da invasão russa.