Segundo a agência France-Presse, a empresa de telecomunicações Orange indicou que “quase 9.000 assinantes” de um serviço de internet por satélite da sua filial Nordnet, foram privados de internet em França na sequência de um ‘ciber-evento’ ocorrido a 24 de fevereiro contra a Viasat, um operador de satélite norte-americano do qual é cliente.
Outra empresa, a Eutelsat, “casa mãe” do serviço de internet por satélite ‘bigblu’, que conta com quase 50 mil clientes na Europa, confirmou igualmente hoje à AFP que “uma parte” dos seus clientes do ‘bigblu’ foi afetada pela avaria na Viasat, recusando adiantar números exatos.
Nos Estados Unidos, a Viasat disse na quinta-feira que o ‘ciber-evento’ provocou “uma avaria de rede parcial” para os clientes “na Ucrânia e outros lugares” na Europa, dependentes do seu satélite KA-SAT.
A Viasat não deu mais detalhes sobre o ciberataque, limitando-se a referir que “a polícia e os seus parceiros estatais” foram avisados e estavam a “prestar assistência” à investigação.
Se o eufemismo ‘ciber-evento’ deixava poucas dúvidas sobre o facto de se tratar de um ciberataque, o facto foi confirmado na quinta-feira pelo general Michel Friedling, que dirige o comando francês do Espaço.
“Há alguns dias, pouco depois do início das operações (russas em território ucraniano), tivemos uma rede de satélite, que cobre a Europa e em particular a Ucrânia, que foi vítima de um ciberataque, com dezenas de milhares de terminais que ficaram inoperacionais imediatamente após o ataque”, disse, precisando que falava de uma rede de uso civil, a Viasat.
Os especialistas militares e cibernéticos temem que o conflito russo-ucraniano dê lugar a um surto de ciberataques, um ‘ciber-Armagedão’ com grandes consequências para os civis na Ucrânia e na Rússia, mas também no resto do mundo.
Para já, o pior cenário parece ter sido evitado, os ataques identificados parecem ter tido efeitos contidos na abrangência geográfica.
Os observatórios de cibersegurança detetaram na Ucrânia ataques com um novo vírus destruidor de dados, cujos efeitos reais são pouco conhecidos.
Na Rússia, os ‘sites’ institucionais estiveram inacessíveis a partir do estrangeiro, para os proteger de ataques que os tornassem inoperantes.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 1,2 milhões de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
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