Halyna Andreyeva, 65 anos, está desde 2001 em Portugal, com o marido. Vive em Ermesinde, a quase 4 mil quilómetros do sítio para onde o seu coração e cabeça a transportam neste momento. Parte da família, incluindo tios e primos, vive na Ucrânia, em cidades relativamente perto de Kiev – Tcherkássi, de onde é, a 200 quilómetros da capital, e Uman. “Até agora, tenho conseguido falar com eles e estão bem, mas não sabemos o que pode acontecer amanhã”, desabafa à VISÃO, acrescentando que “tudo mudou a partir de 24 de fevereiro”.
O filho de Halyna vive com a família no Canadá e, depois de o conflito armado na região de Donbass ter começado, há quase oito anos, também a filha começou a procurar um novo destino para si, onde pudesse ter melhores condições de vida. Vive, desde 2019, em Cracóvia, na Polónia, e a sua segunda filha já nasceu nesse país vizinho, que proibiu esta sexta-feira a difusão, em território polaco, das televisões russas Russia Today (RT), Soyuz TV, Rossija 24 e dos demais meios de língua russa.
Todos os anos, Halyna e o marido vão de férias, recarregar energias, para a sua terra, mas com a instauração desta guerra sabem que esses planos podem ficar adiados por muito tempo, tal como os planos de, em breve, regressarem de vez para a Ucrânia. “Eu e o meu marido já somos idosos e gostávamos de regressar ao nosso país, mas a um país pacífico. Quando? Não sabemos…”, desabafa.
Com os filhos em segurança, Halyna sofre pelos restantes familiares e amigos e, apesar de ter casa no seu país de origem, sabe que o pior que pode acontecer é que seja destruída durante os ataques. Em Portugal, está em segurança, mas não consegue deixar de pensar “na morte e sangue” que esta guerra provocada pela “grande Rússia” vai levar aos seus conterrâneos, que têm a vida realmente em risco. “Tenho medo pelo futuro da Ucrânia porque é o meu país. Nasci lá, é a minha pátria”, diz, acrescentando que, caso a Ucrânia seja ocupada pela Rússia, “deixará de ser a Ucrânia”.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou, na quinta-feira de madrugada, o início de uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos em território ucraniano, de acordo com fontes ucranianas. A ONU deu conta de 100 mil deslocados no primeiro dia de combates.
Esta sexta-feira, Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, informou que o presidente está pronto para enviar uma delegação a Minsk, capital da aliada Bielorrússia, para conversações com a Ucrânia, aludindo a uma recente declaração de Zelensky, na qual o presidente ucraniano referiu estar disposto a discutir o estatuto de neutralidade do país, o que pressuporia renunciar à sua aspiração de aderir à NATO.