A Rússia lançou hoje de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ataque responde a um “pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português.
Zelensky: “Cortámos os laços diplomáticos com a Rússia”
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou hoje, num discurso feito à nação, o corte das relações diplomáticas com Moscovo, na sequência da invasão do país pelas forças armadas russas. “Cortámos os laços diplomáticos com a Rússia”, disse Zelensky.
Putin: “A Rússia moderna, mesmo após o colapso da URSS e a perda de uma parte significativa do seu potencial, é hoje uma das potências nucleares mais poderosas do mundo”
Ao longo de uma intervenção que durou cerca de 40 minutos, o presidente da Rússia justificou o ataque com base na História. “A tentativa de apaziguar o agressor na véspera da Grande Guerra Patriótica revelou-se um erro que custou caro ao nosso povo”, lembrou Putin, a justificar porque decidiu agora tomar a iniciativa, como forma de evitar um ataque por parte daqueles que, segundo diz, “reivindicando o domínio mundial”, declararam “a Rússia como seu inimigo”.
“Quem nos tentar impedir, e ainda mais para criar ameaças ao nosso país, ao nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e que levará a consequências de tal ordem que nunca experimentaram na sua História. Estamos prontos para qualquer desenvolvimento dos acontecimentos. Todas as decisões necessárias a este respeito já foram tomadas. Espero ser ouvido”, avisa ainda Putin
Marcelo Rebelo de Sousa: Portugal condena “flagrante violação do direito internacional”
O Presidente da República comentou sobre o confronto que classificou de uma “violação flagrante do direito internacional”. “Para repetir o que disse logo de madrugada sobre a condenação veemente da atuação russa, que a evolução dos acontecimentos só tem permitido condenar”, demostrando-se “solidário com o Estado e povo ucraniano”.
Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se “orgulhoso por ser Presidente da República Portuguesa tendo em Portugal uma comunidade excecional como a ucraniana”.
Sobre os cidadãos, o Presidente garante que “a grande maioria tem dupla nacionalidade. Não só o embaixador português foi o penúltimo a sair de Kiev, como ficaram oficiais” para ajudar os portugueses que “residiam ou se encontravam em território ucraniano”.
António Costa: “A resposta deve ser mesmo a solução diplomática e não da confrontação”
“A última coisa que se deseja é qualquer corte das relações diplomáticas e, em qualquer circunstância, os canais de diálogo devem ser mantidos em aberto”, sustentou o líder do executivo, António Costa, em conferência de imprensa. De acordo com o primeiro-ministro, “a grande resposta a esta crise” entre a Rússia e a Ucrânia, “deve ser mesmo a solução diplomática e não da confrontação”.
Em relação à ação militar hoje desencadeada pela Rússia no leste da Ucrânia, António Costa afirmou que a resposta de Portugal e dos seus aliados deve passar por “uma condenação veemente” e por uma “resposta militar de dissuasão para evitar a escalada deste conflito e a sua expansão aos países membros da NATO”.
“Mas devemos manter, a todos os níveis, os esforços diplomáticos para que o direito internacional seja assegurado, a integridade territorial da Ucrânia seja respeitada, as ações militares cessem e as tropas russas regressem ao seu próprio território, garantindo a paz e a segurança no conjunto da Europa”, frisou o primeiro-ministro.
Von der Leyen: “A Rússia pagará um preço elevado”
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantiu ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “trabalho sem parar” para a União Europeia e o Ocidente prestarem “o maior apoio possível”, após a invasão russa do país. “Falei com o Presidente Volodymyr Zelensky enquanto ele organiza a defesa ao ataque militar da Rússia. Garanti-lhe que estamos a trabalhar ‘non-stop’ [sem parar] para dar o maior apoio possível”, informou a líder do executivo comunitário, numa publicação na rede social Twitter.
Na posição, que surgiu depois de Moscovo ter ordenado uma operação militar em grande escala na Ucrânia, iniciada hoje de madrugada, Ursula von der Leyen adiantou que irá, hoje, “discutir com outros líderes do G7 [grupo dos sete países mais ricos do mundo] e do Conselho Europeu” a crise de segurança ucraniana.
“A Rússia pagará um preço elevado”, avisou.
Joe Biden: “A Rússia, e apenas ela, é responsável pela morte e pela destruição que este ataque vai provocar”
Presidente dos Estados Unidos denunciou “o ataque injustificado” da Rússia contra a Ucrânia. “O Presidente Putin escolheu [lançar] uma guerra premeditada que vai resultar em sofrimento e perdas humanas catastróficas”, declarou Joe Biden, em comunicado.
“A Rússia, e apenas ela, é responsável pela morte e pela destruição que este ataque vai provocar”, insistiu o chefe de Estado norte-americano, sublinhando que “o mundo vai exigir contas” a Moscovo.
Secretário-geral da NATO: “Ato brutal de guerra”
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou a realização de uma cimeira de líderes da organização, por videoconferência, para sexta-feira, para os Aliados discutirem os próximos passos a dar face ao “ato brutal de guerra” lançado pela Rússia.
“A paz no nosso continente foi destruída. Temos agora uma guerra na Europa numa escala e tipo que pensávamos pertencer ao passado […]. Convoco uma cimeira virtual de líderes da NATO para amanhã [sexta-feira] para discutirmos o caminho em frente”, declarou Stoltenberg, numa conferência de imprensa no quartel-general da organização, em Bruxelas.
Parlamento Europeu: Declaração dos líderes sobre a Ucrânia
Num comunicado, a presidente Roberta Metsola e os líderes dos grupos parlamentares representados na Conferência dos Presidentes condenaram o ataque desta quinta-feira. “A Conferência dos Presidentes condenou o ataque russo à Ucrânia nos termos mais fortes possíveis. A Ucrânia é uma nação independente e soberana e a sua integridade territorial não é negociável. A invasão é injustificada e ilegal. É uma ameaça à estabilidade europeia e regional, bem como à ordem mundial baseada em regras. O ataque visa o nosso modelo de sociedade democrática. Não pode ficar sem resposta”, lê-se
“Permanecemos firmes na nossa unidade, na nossa determinação e na nossa resposta à agressão da Rússia, que não foi provocada. O Parlamento Europeu apoia uma resposta europeia e internacional sem precedentes, incluindo novas e severas sanções para garantir que o Kremlin seja responsabilizado pelas suas acções”, dizem.
Representante de Política Externa e de Segurança: “Exigimos ao Presidente Putin que cesse imediata e incondicionalmente as operações militares russas”
Numa declaração em nome da União Europeia, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, sublinha que a UE “condena com a maior veemência possível a invasão não provocada da Ucrânia pelas forças armadas da Federação Russa”, assim como “o envolvimento da Bielorrússia nesta agressão”, o chefe da diplomacia europeia lembra que “a UE deixou claro desde o início, e ao mais alto nível político, que qualquer nova agressão militar contra a Ucrânia teria consequências maciças e custos severos”.
“Exigimos ao Presidente [russo, Vladimir] Putin que cesse imediata e incondicionalmente as operações militares russas, retirando todas as forças e equipamento militar de todo o território da Ucrânia”, declara, acrescentando que Moscovo “tem plena responsabilidade por este ato de agressão e por toda a destruição e perda de vidas que irá causar”.
Borrell garante então que “a Rússia será responsabilizada pelos seus atos” e antecipa que “a resposta da UE incluirá medidas restritivas tanto setoriais como individuais, coordenadas plenamente com os nossos parceiros transatlânticos e outros parceiros com os mesmos interesses”.
Olaf Scholz: “Putin está a trazer sofrimento e destruição para os seus vizinhos”
A invasão da Ucrânia pela Rússia “coloca em risco a vida de inúmeras pessoas inocentes” e “põe em causa a paz” na Europa, afirmou hoje o chanceler alemão, Olaf Scholz. “O Presidente russo está mais uma vez a violar de maneira flagrante o direito internacional”, denunciou o chanceler alemão, em declarações à imprensa em Berlim, sublinhando ainda que “nada pode justificar tudo isso”.
“É a guerra de Putin”, afirmou o líder alemão, que convocou o Bundestag (Câmara Baixa) alemão para uma sessão extraordinária no domingo. “Putin está a trazer sofrimento e destruição para os seus vizinhos, está a violar a soberania e as fronteiras da Ucrânia, está a colocar em risco a vida de inúmeras pessoas inocentes na Ucrânia e, no fim das contas, está a colocar em causa a paz em nosso continente”, denunciou Scholz.
Boris Johnson: o Reino Unido “não vai olhar para o lado”
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu intervir de forma militar no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, vincando que a invasão russa “deve acabar em fracasso” e que o Reino Unido “não vai olhar para o lado”.
Referindo o direito soberano da Ucrânia à liberdade e democracia, disse: “Nós — e o mundo — não podemos permitir que essa liberdade seja simplesmente extinta. Não podemos e não vamos simplesmente olhar para o lado”.
Johnson adiantou que, com outros líderes internacionais, vai preparar um “pacote massivo de sanções económicas destinadas a abanar gradualmente a economia russa”, defendendo o fim da dependência do petróleo e gás russo.
“A nossa missão é clara. Diplomaticamente, politicamente, economicamente — e, eventualmente, militarmente — esta operação hedionda e bárbara de Vladimir Putin deve terminar em fracasso”, afirmou.