Kamala Harris e Tim Walz – candidatos democratas à presidência e vice-presidência dos Estados Unidos nas eleições de novembro – deram uma entrevista ao canal norte-americano CNN esta quinta-feira, dia 29 de agosto. Na primeira entrevista oficial desde que foi nomeada pelo partido democrata às eleições de novembro, a ainda vice-presidente, Kamala Harris, esclareceu algumas das suas posições políticas – nomeadamente a atuação do país no conflito de Gaza – e recusou falar sobre o adversário republicano, Donald Trump.
A entrevista exclusiva à CNN, com 27 minutos de duração, foi guiada pela jornalista Dana Bash. Questionada sobre algumas mudanças de posição sobre questões fundamentais – como o fracking [combustíveis fósseis] e a imigração – a democrata referiu que continua a guiar-se pelos mesmos ideais e valores e defendeu propostas em que acreditou no passado. Desde que assumiu o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos, ao lado de Joe Biden, em 2020, Harris abandonou uma série de posições de esquerda. “Como é que os eleitores devem olhar para algumas das mudanças que fez?”, perguntou Bash. “É porque agora tem mais experiência e aprendeu mais sobre as informações? É porque estava a concorrer à presidência numa primária democrata? E deverão eles sentir-se confortáveis e confiantes de que o que está a dizer agora será a sua política daqui para a frente?”, questionou.
“Os meus valores não mudaram”, garantiu, acrescentando que o seu tempo como vice-presidente lhe deu uma nova perspetiva sobre algumas das questões mais importantes para o país. “Penso que o aspeto mais importante e mais significativo da minha perspetiva política e das minhas decisões é que os meus valores não mudaram. Acredito que é importante construir consensos e que é importante encontrar um ponto comum de entendimento sobre onde podemos realmente resolver os problemas”, explicou.
Quando lhe foi pedido que descrevesse os seus objetivos para o primeiro dia, caso saia vencedora das eleições, Harris não quis enumerar quaisquer medidas, referindo que se mantém focada no reforço da economia e prioriza a classe média. “Antes de mais, uma das minhas maiores prioridades é fazer o que pudermos para apoiar e fortalecer a classe média”, afirmou. A candidata já tinha apresentado, no início do mês, um plano económico centrado na redução dos custos da alimentação, habitação e cuidados infantis e no maior investimento dos pequenos negócios. Os seus planos seguem, contudo, as políticas anunciadas por Biden e que, segundo Harris, não houve oportunidade de implementar durante esses anos devido à condição económica do país. “Tínhamos de recuperar a economia e fizemo-lo”, referiu.
Durante a entrevista, Harris falou ainda sobre o ainda presidente norte-americano, tendo descrito, pela primeira vez, o telefonema em que Biden a informou sobre a sua desistência à corrida eleitoral a um segundo mandato. “Penso que a história vai mostrar uma série de coisas sobre a presidência de Joe Biden. Acho que a história vai mostrar que, em muitos aspetos, foi transformadora, seja no que realizamos em torno de finalmente investir na infraestrutura da América, investindo em novas economias, em novas indústrias, o que fizemos para reunir nossos aliados e ter confiança em quem somos como América, e aumentar essa aliança, o que fizemos para nos mantermos fiéis aos nossos princípios, incluindo o – uma das regras e normas internacionais mais importantes, que é a importância da soberania e integridade territorial”, referiu.
“Estou muito orgulhosa de ter servido como vice-presidente de Joe Biden”, acrescentou. “Estou muito orgulhosa de concorrer com Tim Walz à presidência dos Estados Unidos e de trazer à América o que acredito que o povo americano merece, que é um novo caminho a seguir, e virar a página da última década do que acredito ter sido contrário ao espírito do nosso país”.
Tanto Walz como Harris defenderam ainda que a democrata é a pessoa mais bem preparada para derrotar Donald Trump. Recentemente, Trump, 45.º presidente dos Estados Unidos, sugeriu através de um discurso que Harris só se “identificou” como negra de forma a ter algum ganho político. Uma afirmação que a candidata rejeitou. “É o mesmo velho e cansado manual”, referiu. “Próxima pergunta, por favor”.
Recusando responder a perguntas sobre o republicano, Harris defendeu que a sua candidatura é independente da sua raça ou sexo. “Estou a candidatar-me porque acredito que sou a melhor pessoa para fazer este trabalho neste momento para todos os americanos, independentemente da raça e do género”, contou Harris, após um momento na entrevista em que lhe foi pedido um comentário sobre uma fotografia viral, do New York Times, da sua sobrinha a vê-la discursar na convenção democrata.
Já Tim Walz – governador do estado do Minnesota – teve menos intervenções que Harris durante a entrevista. O candidato à vice-presidência referiu estar entusiasmado com “a ideia de inspirar a América para o que pode ser” e defendeu-se se algumas acusações – sobre o seu passado no serviço militar e história familiar – feitas pelos adversários.
Caso eleita, Harris quer convidar um republicano para o governo
Até aos mandatos de Biden e Trump, era comum que os presidentes eleitos convidassem um adversário do partido político opositor para integrar, pelo menos, um cargo no seu governo. Continuando a sua promessa de ser uma presidente “todos os americanos”, Harris referiu vir a fazer esse convite caso seja eleita para a liderança da Casa Branca.
“Faltam 68 dias para as eleições, por isso não estou a pôr a carroça à frente dos bois”, começou por explicar. “Mas acho que o faria. Penso que é muito importante. Passei a minha carreira a convidar à diversidade de opiniões. Penso que é importante ter pessoas à mesa, quando estão a ser tomadas algumas das decisões mais importantes, com pontos de vista e experiências diferentes. E penso que seria benéfico para o público americano ter um membro do meu Gabinete que fosse republicano”, contou.
Conflito no Médio Oriente
Quando questionada sobre as políticas de Joe Biden no conflito de Gaza, as ideias de Harris não divergiram das implementadas pelo ainda Presidente norte-americano. “Temos de chegar a um acordo. Esta guerra tem de acabar e temos de chegar a um acordo que permita libertar os reféns”, defendeu.
“Deixem-me ser muito clara”, disse. “Sou inequívoca e inabalável no meu compromisso com a defesa de Israel e a sua capacidade de se defender. E isso não vai mudar. Mas vamos dar um passo atrás. 7 de outubro. Doze centenas de pessoas foram massacradas. Muitos jovens que estavam simplesmente a assistir a um festival de música. As mulheres foram terrivelmente violadas. Como disse na altura e digo hoje – Israel tinha o direito, tem o direito de se defender, nós fá-lo-íamos. E a forma como o faz é importante. Foram mortos demasiados palestinianos inocentes. E temos de chegar a um acordo”, concluiu Harris.