Imaginemos que Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente português, põe a correr na comunicação social que admite realizar um debate televisivo com André Ventura, o líder do Chega, para discutirem, só os dois, os desafios – atuais e futuros – da União Europeia (UE). Motivo alegado oficiosamente: as sondagens indicarem que os candidatos do Chega às eleições para o Parlamento Europeu (PE) estão prestes a alcançar uma vitória retumbante e a quase duplicar o resultado do segundo partido mais votado, em termos percentuais, a 9 de junho. Em simultâneo, Luís Montenegro, primeiro-ministro e líder do PSD, para evitar uma humilhante derrota face ao movimento populista e ao respetivo cabeça de lista, António Tânger Corrêa, salta igualmente para a campanha e agenda um debate de urgência com o antigo embaixador. Marcelo e Montenegro a passarem um atestado de incapacidade a Sebastião Bugalho, o número um dos sociais-democratas na corrida ao PE? Exato. Impensável e inverosímil, como se percebeu já na última segunda-feira, 13, quando o jovem comentador recém-convertido à política revelou alguma desenvoltura contra os seus pares do Partido Socialista (Marta Temido), da Iniciativa Liberal (Cotrim Figueiredo) e do Livre (Francisco Paupério).
Por estranho que pareçam as analogias e salvaguardadas as devidas diferenças, em França, o Presidente (Emmanuel Macron) e o primeiro-ministro (Gabriel Attal), ambos do mesmo partido (Renascimento), protagonizam um cenário similar ao acima descrito. Um e outro dão sinais de algum desnorte perante as intenções de voto na candidata que escolheram. Valérie Hayer, eurodeputada desde 2019 e líder da bancada dos liberais no hemiciclo de Estrasburgo, aparece com praticamente metade das intenções de voto que tem o partido de extrema-direita criado, há mais de meio século, por Jean-Marie Le Pen, ao qual sucedeu, em 2011, a sua filha Marine. Pior. Valérie Hayer e o Renascimento podem até obter um desonroso terceiro lugar e ficar atrás do Partido Socialista/Espaço Público, coligação encabeçada pelo jornalista e ensaísta Raphäel Glucksmann.