Se pensa que a Península Ibérica é dada a coligações de governo pouco convencionais, desengane-se. O próximo governo neerlandês será uma autêntica geringonça frankenstein, para usarmos a expressão cunhada, em 2016, pelo socialista espanhol Alfredo Pérez Rubalcaba.
Quatro meses após as legislativas que deram uma clara vitória a Geert Wilders, líder do nacional-populista Partido para a Liberdade (PVV), os Países Baixos preparam-se para ter um Executivo bem à direita, formado por liberais europeístas (VVD), democratas-cristãos eurocéticos (NSC), conservadores-ruralistas eurofóbicos (BBB) e tecnocratas para todos os gostos. De fora, por opção própria e por serem dispensáveis nesta maioria parlamentar antiprogressista, ficam os radicais do Fórum para a Democracia e a mais antiga formação partidária do reino de Guilherme Alexandre, o Partido Político da Reforma (SGP). Não se julgue que este último tenha algo que ver com reformados ou possua um programa reformista no que quer que seja. Trata-se de um movimento calvinista, criado em 1918, que, desde então, nunca aceitou integrar nenhum governo por, entre outras minudências, defender a instauração de um regime teocrático, onde deve vigorar o apartheid de género e a Bíblia tem de funcionar como lei suprema.