De acordo com essas fontes, Biden tomou a decisão “extremamente difícil” de indultar o empresário Alex Saab, preso nos Estados Unidos desde outubro de 2021 no âmbito de um processo de branqueamento de capitais.
Caracas, por seu lado, além de libertar os dez cidadãos norte-americanos que tinha encarcerados, vai entregar a Washington um fugitivo, o fornecedor do setor da defesa Leonard Francis, conhecido como “Fat Leonard”, envolvido num enorme escândalo de corrupção que atingiu a Marinha norte-americana, acrescentou Joe Biden.
Leonard Glenn Francis, o proprietário malaio de uma empresa de serviços de navios no Sudeste Asiático que é a personagem central de um dos maiores escândalos de suborno na história do Pentágono, foi detido num hotel em San Diego, na Califórnia, há quase uma década, no âmbito de uma operação federal.
Os investigadores afirmam que ele e a sua empresa, a Glenn Defense Marine Asia, roubaram mais de 35 milhões de dólares à Marinha, subornando dezenas de oficiais de alta patente da Marinha com bebidas, sexo, festas e presentes luxuosos.
O caso, que revelou pormenores obscenos sobre militares que traíam as suas mulheres e procuravam prostitutas, foi um embaraço para o Pentágono.
Três semanas antes de ser condenado, em setembro de 2022, Francis protagonizou uma fuga tão insólita como o próprio caso, cortando o seu monitor de tornozelo e desaparecendo. Foi detido pela polícia venezuelana quando tentava embarcar num voo num aeroporto dos arredores de Caracas, tem estado sob custódia desde então e será agora extraditado.
Quanto a Saab, há muito que os Estados Unidos o consideram “o homem das entregas” de Maduro, pelo que a sua libertação será vista como uma grande concessão a um líder autoritário que é, ele mesmo, alvo de uma recompensa de 15 milhões de dólares (13,6 milhões de euros) para quem o levar para Nova Iorque para responder a acusações judiciais de tráfico de droga.
O acordo poderá também irritar a oposição venezuelana, que ultimamente tem criticado a Casa Branca por ficar de braços cruzados enquanto o líder da nação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) repetidamente contorna o Governo norte-americano, depois de a campanha de pressão máxima do executivo de Donald Trump (2017-2021) ter falhado em derrubá-lo.
Em outubro, a Casa Branca aliviou as sanções à indústria petrolífera venezuelana, prometendo reimpô-las se Maduro não cumprisse até 30 de novembro a promessa de organizar eleições livres e transparentes no próximo ano.
Esse prazo expirou e, até agora, Maduro não reverteu a medida que impede a sua principal adversária, María Corina Machado, de se candidatar à Presidência da República.
Entre os norte-americanos até agora atrás das grades na Venezuela, contavam-se dois ex-membros das forças especiais do Exército dos Estados Unidos, Luke Denman e Airan Berry, que estiveram envolvidos numa tentativa de depor Maduro em 2019.
Também detidos estavam Eyvin Hernández, Jerrel Kenemore e Joseph Cristella, acusados de entrar ilegalmente no país procedentes da Colômbia. Mais recentemente, a Venezuela prendeu Savoi Wright, um empresário de 38 anos da Califórnia.
“Estes indivíduos perderam demasiado tempo precioso com os seus entes queridos, e as suas famílias sofreram todos os dias com a sua ausência. Estou grato pelo facto de a sua provação ter finalmente terminado e de estas famílias estarem novamente juntas”, afirmou Biden numa declaração.
Saab, de 51 anos, foi retirado de um jato privado durante uma escala para abastecimento de combustível em Cabo Verde, a caminho do Irão, para onde foi enviado para negociar acordos petrolíferos em nome do Governo de Maduro.
Foi acusado de conspiração para cometer lavagem de dinheiro ligada a um esquema de subornos que alegadamente desviou 350 milhões de dólares (318 milhões de euros) através de contratos estatais para a construção de habitação económica para o Governo da Venezuela.
Segundo o executivo de Maduro, Saab ia ao Irão para comprar alimentos e material médico quando foi detido em Cabo Verde.
Ele já tinha sido anteriormente sancionado pelo Departamento do Tesouro norte-americano por alegadamente gerir um esquema que incluía o círculo íntimo de Maduro e que roubou centenas de milhões de dólares em contratos de importação de alimentos numa época de fome generalizada no país latino-americano, principalmente devido à escassez de bens alimentares.
Uma década volvida desde o início da crise, as mercearias e supermercados estão agora abastecidos, mas poucos venezuelanos têm dinheiro suficiente para comprar comida: o salário mínimo mensal é de cerca de 3,60 dólares (3,28 euros), o que chega apenas para comprar um garrafão de 3,7 litros de água.
O Governo Trump apresentou Saab como um troféu, depois de gastar milhões de dólares a perseguir o empresário nascido na Colômbia. A certa altura, chegou mesmo a enviar um navio de guerra da Marinha norte-americana para a costa da África Ocidental como aviso aos venezuelanos.
O executivo de Maduro argumentou que Saab é um diplomata venezuelano, com direito a imunidade contra processos criminais, nos termos do direito internacional.
E os seus advogados de defesa afirmaram no ano passado, numa audiência à porta fechada antes da sua detenção, que Saab tinha estado secretamente em contacto com a Agência de Combate ao Tráfico de Droga dos Estados Unidos (DEA), a ajudar as autoridades a desvendar a corrupção no círculo próximo do Presidente venezuelano e dispondo-se a abdicar de milhões de dólares em receitas ilegais provenientes de contratos estatais corruptos.
ANC // PDF