Teresa Guimarães planeava ficar três meses em Israel a realizar um estágio na sua especialidade, Medicina Intensiva, no hospital Sheba Medical Center, perto de Ramat Gan, a nove quilómetros de Telavive.
“O trauma sempre foi uma área que me despertou algum interesse. Neste caso Israel, pelo avanço tecnológico e pelo grande conjunto de casos de trauma que tem, pelas razões óbvias, sempre foi um local com bastante interesse para a minha formação”, conta à VISÃO a médica, de 30 anos.
O início do conflito, no sábado, 7 de outubro, trocou-lhe as voltas. Na sexta-feira anterior, Teresa Guimarães decidiu ir à última sessão de cinema do filme “Golda”, que retrata a importância de Golda Meir, antiga primeira-ministra do país, que deixou o cargo em 1974, na guerra do Yom Kippur, com início a 6 de outubro 1973, quando o Egipto e a Síria atacaram Israel de forma supreendente, e na história de Israel.
Nessa noite, a médica intensivista ficou a dormir em casa de um casal amigo, em Ramat Gan. “Na madrugada de dia 7, fui acordada pelas sirenes e pela amiga a alertar-me sobre o que estava a acontecer”, lembra.
Ambiente “estranhamente calmo e silencioso”
Teresa Guimarães conta que o ambiente nas ruas estava “estranhamente calmo e silencioso” e que “não se via quase ninguém na rua”.
“O meu sentimento inicial foi de surpresa, mas ao mesmo tempo de tranquilidade, por se tratar de um país já habituado a estes percalços”. Contudo, devido ao conflito começar a aumentar “exponencialmente de proporção”, e “com o maior número de misséis” que se foram sentindo, a médica decidiu que a melhor solução seria regressar a Portugal.
Tentou contactar a Embaixada Portuguesa, mas inicialmente foi impossível, tendo sido informada por “portugueses residentes em Israel que a Embaixada praticamente não funcionava”. Começou a procurar outras alternativas mas conseguiu, entretanto, uma resposta da Embaixada, o repatriamento foi organizado e todo o processo acabou por ser bastante rápido, diz.
E apesar do “alívio” que sentiu por estar em segurança e poder tranquilizar a sua família, trouxe consigo para Portugal “um sentimento de muita tristeza e frustração, pelos colegas que deixou para trás”, pelo estágio que lutou “anos para conseguir” e que não concluiu e “por toda a situação em si”. “Faz-me refletir bastante sobre o porquê destas guerras e o porquê da violência”, afirma.
“Ao rever algumas fotos e vídeos que tinha guardado, apercebi-me da importância de construir um mundo onde todos possam viver sem medo, em segurança e com dignidade. Espero um dia conseguir ver e viver nesse mundo”, escreveu também a médica, numa publicação na sua conta de Instagram.
Teresa Guimarães tem mantido contacto com colegas israelitas, que “estão muito angustiados” com o conflito. “Neste momento estão a trabalhar mais, porque muitos médicos foram mobilizados para o exército, portanto quem fica no hospital tem de fazer bastante mais horas”, diz ainda.