Oito dias antes de o Hamas lançar a maior ofensiva de sempre contra a população civil de Israel, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, mostrava-se sereno e tranquilo perante os desenvolvimentos que dizia então observar numa das regiões historicamente mais martirizadas por conflitos e guerras. “O Médio Oriente vive, hoje, a situação mais calma das últimas duas décadas”, afirmou, no palco do festival da revista The Atlantic, em Washington, ao ser entrevistado pelo editor-chefe daquela publicação, Jeffrey Goldberg, sem que alguém desconfiasse das suas palavras, tendo em conta as boas notícias que chegavam daquela parte do globo: uma trégua na longa guerra no Iémen, estabilidade no Iraque e até a abertura de um caminho para a normalização das relações entre a Arábia Saudita e Israel. “O tempo que dedico às crises e aos conflitos no Médio Oriente, em comparação a qualquer dos meus antecessores desde o 11 de Setembro, é hoje significativamente reduzido”, exultou ainda o jurista, de 46 anos, já com uma longa carreira em Washington e a quem é atribuído um papel de mediador importante nas negociações que levaram a um cessar-fogo em Gaza, em 2012.
Duas semanas depois, tudo está radicalmente diferente, e tanto Jake Sullivan como o resto do mundo têm a atenção centrada quase em exclusivo no Médio Oriente. Todos unidos pela mesma torrente de emoções, em que a dor se mistura com o medo, e a estupefação é rapidamente substituída pela indignação ou pela revolta. À consternação face à violência dos ataques perpetrados pelo Hamas – quase exclusivamente dirigidos a alvos civis e com a captura de dezenas de reféns –, seguiu-se a preocupação com a sorte dos cerca de dois milhões de habitantes de Gaza, perante uma anunciada invasão terrestre, que se adivinha brutal e vingativa, por parte das forças israelitas, e que, a concretizar-se, fará desencadear ondas de choque com a capacidade de atingir o resto do mundo, gerar novos conflitos em cadeia, aumentar a insegurança e penalizar a economia. Quantos passos faltam para chegarmos ao inferno?