A informação consta nos chamados “Documentos dos Rotenberg”, uma investigação do consórcio de jornalistas OCCRTP, com base numa fuga de informação de mais de 50.000 documentos e de e-mails entre 2013 e 2020, obtidos pelo órgão de comunicação social independente russo IStories e partilhados por 15 outros jornais, televisões, rádios e agências noticiosas também independentes.
Os dois irmãos, que cresceram em Leninegrado, conheceram Putin quando frequentavam juntos aulas de artes marciais e a relação entre os três perdurou à medida que crescia o poder do antigo agente do KGB (antigo nome dos serviços secretos russos) e que este assumia o cargo de chefe de Estado.
Segundo o consórcio, as fortunas dos dois irmãos também cresceram com contratos lucrativos que, embora sancionados pela anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia, em 2014, lhes valeram uma riqueza conjunta de cerca de 4.900 milhões de dólares (4.450 milhões de euros), segundo a revista Forbes.
A riqueza de Boris e Arkady Rotenberg, segundo a investigação, foi protegida por um empresário e por um antigo diplomata russos com vínculos ao príncipe Michael de Kent, primo da rainha Isabel II, a soberana britânica que morreu a 22 de setembro de 2022, aos 96 anos.
Essa riqueza tinha de ser protegida e, no meio das sanções e de vastos ativos estrangeiros em risco, os irmãos procuraram afastar as fortunas dos reguladores ocidentais. Os documentos divulgados revelam que uma figura foi fundamental para ajudar os irmãos Rotenberg a proteger a sua fortuna.
Trata-se do empresário moscovita Maxim Viktorov, 50 anos, cuja empresa e escritório de advogados russos desempenharam um papel fundamental no plano para salvar os investimentos dos dois irmãos, como as ações no estádio Helsinki Halli.
A família Rotenberg utilizou várias técnicas para movimentar a sua fortuna “como peças de xadrez” em todo o mundo, abrindo contas bancárias à medida que outras eram encerradas e estruturas de propriedade que se transformavam em resposta a novas sanções ou a questões colocadas pelos reguladores, refere a investigação.
Viktorov recorreu a prestadores de serviços empresariais de confiança para transferir as empresas dos Rotenberg para “jurisdições menos exigentes”, desde as ilhas Virgens até Chipre.
Na Rússia, a sua empresa Evocorp Management geria alguns dos bens dos irmãos, depois de estes terem sido colocados sob o controlo de fundos de investimento ultrassecretos que Viktorov apresentava como seus, segundo a investigação.
No estrangeiro, a empresa ILS Legal Services, registada no Panamá, é indicada como tendo trabalhado com Viktorov.
A fuga de informação revela também como um conjunto de terceiras pessoas, incluindo um homem que se diz ser o antigo guarda-costas de Boris Rotenberg e uma esteticista de 36 anos, “que parece ser a parceira romântica secreta de Arkadi Rotenberg, assumiram a propriedade de alguns dos ativos valiosos dos irmãos”.
Viktorov afirmou que nem ele nem nenhuma das suas empresas violaram quaisquer leis e descreveu a investigação como imperfeita.
Viktorov trabalhou para o KGB na década de 1990. Posteriormente, começou a prestar serviços jurídicos a empresários e funcionários públicos. Em 2012, tornou-se conselheiro do ministro da Defesa. Nessa altura, já conhecia o círculo de Putin. No trabalho para os Rotenberg, Viktorov recorreu frequentemente aos seus contactos no estrangeiro.
Em 2018, o Fundo de Programas de Investimento de Viktorov tornou-se acionista da empresa britânica de tecnologia RemitRadar, onde o empresário Sergey Markov, um antigo diplomata soviético, e o príncipe Michael de Kent, sobrinho-neto do imperador russo Nicolau II, que atuou como “embaixador” da empresa, também tinham participações, de acordo com a investigação.
Segundo o consórcio, o príncipe britânico “distanciou-se dos seus laços com o regime de Putin após a invasão da Ucrânia”, mas continua ligado à RemitRadar.
JSD // APN