O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), fundo de resgate da zona euro, alertou hoje para a inflação acentuada e as condições financeiras restritivas em Portugal, falando numa “pressão adicional” sobre as famílias pelos elevados empréstimos a taxa variável.
“Os riscos de abrandamento [do crescimento económico] decorrem da persistência de uma inflação elevada, da restritividade das condições financeiras e do enfraquecimento da procura externa. A elevada percentagem de empréstimos hipotecários a taxa variável exerce igualmente uma pressão adicional sobre a saúde financeira das famílias”, observa o MEE, no seu relatório anual hoje divulgado, no dia em que o seu Conselho de Governadores se reúne no Luxemburgo.
No capítulo referente a Portugal — que teve um programa de ajustamento macroeconómico entre 2011 e 2014 –, o fundo de resgate do euro assinala que “a Comissão Europeia prevê uma moderação significativa do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] de Portugal em 2023, de 1%, e uma descida da inflação global de 5,4%”.
“Esta evolução reflete uma certa estabilização após a retoma pós-pandémica e uma perda de poder de compra devido à inflação”, acrescenta.
Neste relatório anual, focado essencialmente em 2022, o MEE aponta que, no ano passado, “o forte crescimento económico em Portugal foi impulsionado pelo consumo privado e pelas exportações, apesar do aumento acentuado da inflação e das condições financeiras mais restritivas”.
Precisamente no que toca ao setor financeiro, “as condições de acesso ao mercado mantiveram-se favoráveis, apesar da subida das taxas de rendibilidade (yield) das obrigações soberanas”, segundo o fundo de resgate da UE.
Ao mesmo tempo, em 2022, a “rentabilidade dos bancos portugueses recuperou com o aumento das taxas de juro e a qualidade do crédito melhorou”.
“A rentabilidade do setor bancário continuou a recuperar em 2022, uma vez que a qualidade dos ativos permaneceu resiliente e as novas iniciativas de redução de custos deram frutos. Os empréstimos anteriormente sujeitos a moratórias retomaram, na sua maioria, os pagamentos regulares, ajudando os bancos a reduzir as perdas com empréstimos, mas os níveis globais do rácio de fundos próprios diminuíram, uma vez que o rápido aumento das taxas de juro desencadeou perdas de marcação a mercado e a distribuição de dividendos foi retomada e, consequentemente, […] os bancos tornaram-se mais avessos ao risco e tornaram mais restritivas as condições de empréstimos às empresas não financeiras e às famílias”, elenca o MEE.
Relativamente ao saldo orçamental português, o Mecanismo observa que “o défice das administrações públicas diminuiu, apoiado por uma recuperação das receitas e por um investimento público inferior ao orçamentado”.
“A dívida pública continuou a diminuir em percentagem do PIB”, adianta.
Sediado no Luxemburgo, o MEE é uma organização intergovernamental criada pelos Estados-membros da zona euro para evitar e superar crises financeiras e manter a estabilidade financeira e a prosperidade a longo prazo, concedendo empréstimos e outros tipos de assistência financeira aos países em graves dificuldades financeiras.
ANE // CSJ