A manifestação, que terminou num colonato que fora evacuado por Israel em 2021, ameaça aumentar ainda mais as tensões que foram intensificadas por vários dias de agitação em toda a região sobre um contestado local sagrado de Jerusalém, na mesquita Al-Aqsa.
Em novos episódios de violência, soldados de Israel abateram um jovem palestiniano de 15 anos durante uma operação militar na Cisjordânia ocupada, enquanto uma mulher israelita de 48 anos morreu devido aos ferimentos sofridos no ataque na semana passada que matou duas das suas filhas.
A marcha para Eviatar, um posto avançado israelita de um colonato não autorizado no norte da Cisjordânia, evacuado pelo Governo em 2021 e palco de repetidos atos de violência nos últimos meses, foi liderada por colonos judeus ultranacionalistas, associados à “ala dura” do executivo.
Milhares de agentes da polícia e de soldados das forças armadas israelitas foram mobilizados para proteger a marcha, o que aumentou a atmosfera já de si inflamável que acompanhou a sobreposição dos principais dias sagrados do judaísmo (Páscoa) e do islamismo (Ramadão).
As tensões entre israelitas e palestinianos atingiram um pico nas últimas semanas em torno do santuário de Jerusalém.
Daniella Weiss, uma líder dos colonos, disse à rádio pública Kan que a participação dos ministros na marcha pode ser interpretada como uma “terapia para o Governo se libertar dos ditames dos Estados Unidos e da Europa” sobre os colonatos na Cisjordânia.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lidera o Governo mais religioso, ultraortodoxo, ultranacionalista e de extrema-direita da história de Israel.
Vários membros do executivo, incluindo os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir — ambos oriundos de colonatos na Cisjordânia –, e pelo menos 20 membros do Knesset (Parlamento) participaram na marcha.
Ao intervir na marcha, Ben-Gvir defendeu a presença na manifestação como uma forma de dizer ao mundo que a Nação israelita “é forte”.
“Estamos aqui e aqui permaneceremos”, frisou.
A marcha, considera a agência noticiosa Associated Press (AP), parece ter como objetivo “aumentar o apoio aos radicais israelitas”, liderados justamente por Ben-Gvir.
Sondagens recentes, lembrou a AP, mostram que, após meses de violência, existe uma queda acentuada no apoio ao novo Governo de linha dura, incluindo uma crescente insatisfação entre as pessoas que nele votaram.
Numa das sondagens, feita pela cadeia de televisão israelita Canal 13 TV, refere que 60 por cento dos entrevistados disse não confiar no Governo para lidar com a atual onda de violência, em comparação com os 27% que mostraram confiança.
As visitas a Eviatar foram oficialmente proibidas pelos militares desde que os colonos foram de lá retirados. No entanto, nos últimos meses, a proibição foi aplicada de forma vaga e crescentemente permissiva.
O porta-voz do exército israelita, tenente-coronel Richard Hecht, disse que os militares aprovaram a marcha de hoje, garantindo que a manifestação seria “altamente monitorada e protegida”.
A marcha decorreu sem grandes problemas, embora as tropas israelitas tenham disparado gás lacrimogéneo contra palestinianos na povoação vizinha de Beita que tinham atirado pedras contra os manifestantes em sinal de protesto.
Os serviços médicos palestinianos do Crescente Vermelho indicaram que duas pessoas, incluindo um jornalista, foram atingidas com balas de borracha disparadas pelo exército israelita, enquanto 115 outras sofreram com a inalação de gás lacrimogéneo.
Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra uma bomba de gás lacrimogéneo a cair ao lado de um jornalista palestiniano quando cobria os acontecimentos.
As tensões entre Israel e os palestinianos aumentaram após a invasão policial da semana passada no complexo da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão.
JSD // APN