Hannah Lewis, agora com 85 anos e a viver no norte de Londres, é uma das memórias vivas do que foi viver durante período do Holocausto, o genocídio que matou milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Hannah, filha única, tinha apenas sete anos quando viu a sua mãe ser morta pelos nazis e, à Sky News, contou como foi viver sob o medo constante.
A família de Hannah morava na pequena cidade mercantil de Włodawa, na Polónia. Com lágrimas nos olhos, a testemunha conta que a sua família foi presa pelas tropas de Adolf Hitler e forçada a ir para um campo de trabalhos forçados na vila polaca de Adampol, em 1943. Ao chegar ao acampamento, percebeu que não havia eletricidade nem água e que as medidas de segurança incluíam uma cerca de arame farpado e uma torre de vigia.
Hannah conta que o pai, Adam, conseguiu escapar deste tormento e juntou-se aos guerrilheiros, um movimento de resistência judaica durante a Segunda Guerra Mundial. Sem precisar quanto tempo depois, Adam voltou para avisar sobre um iminente ataque nazi, naquela que seria a última noite da sua mulher. A mãe de Hannah, Haya, recusou-se a fugir, suspeitando que a filha estivesse com febre tifóide. Não podia correr o risco de a criança não sobreviver. “Enquanto eu viver, vou sempre questionar-me como ela passou aquela noite”, recorda, em lágrimas, Hannah. “Como ela é que ela tomou a decisão que tomou? Foi o mais correto?”.
Na cabeça de Haya, provavelmente a resposta seria a mais acertada. Mas a verdade é que na manhã seguinte, Hannah ouviu “gritos” após a chegada do esquadrão de morte paramilitar Einsatzgruppen. “De repente bateram à porta e a minha mãe – com muita dignidade – ajoelhou-se, pegou-me nos braços e deu-me um abraço e um beijo”, conta Hannah. “Ela não correu, não fez barulho”. A filha conta que viu a mãe caminhar até à porta, abriu-a e fechou-a firmemente atrás de si.”Eu esperei que ela voltasse… mas ela não voltou.”
Com a necessidade de perceber onde estava a mãe, se estava bem, o que tinha acontecido, Hannah saiu de casa e viu Haya e outras pessoas a serem “empurradas” para a frente de um poço na aldeia. A mulher relembra que a sua mãe parecia calma, mas não olhava para ela.
Sem perceber o que estava a acontecer, Hannah conta, em lágrimas, que decidiu ir ter com a mãe. “Quando eu ia sair, alguém gritou uma ordem e começaram a atirar. Eu vi-a cair… e vi o sangue na neve”. Além da mãe, o avô de Hannah, o seu tio e o seu primo Shlomo também foram assassinados em Adampol. Apenas Hannah e o seu pai sobreviveram.
Nessa altura, a testemunha não perdeu apenas a mãe, mas um “irmão que nunca teve”. Hannah conta que Shlomo, de três anos, e que era surdo e mudo, era “a única pessoa que absolutamente adorava”. Lembra-se de estar a brincar com o primo quando ouviu o som dos veículos nazis. “Ele não conseguia ouvir e não conseguia falar, então peguei-lhe na mão, puxei-o para que ele soubesse que tinha de vir e corremos para o celeiro mais próximo”.
Hannah diz que mergulhou num monte de palha onde ela e Shlomo se costumavam esconder, mas percebeu que ele não estava lá. Quando estava para o ir procurar, viu-o parado à porta do celeiro. “A porta abriu-se e (os nazistas) viram-no e o pegaram-lhe literalmente pela nuca”, diz. “A minha última visão do meu querido primo foram as suas costas… Nunca mais o vi”.
Após a guerra, Hannah e o pai ficaram a viver na cidade polaca de Lodz e ela admite que ficou com “ciúmes” porque as outras crianças tinham os dois progenitores e ela não. Em 1949, mudou-se para a Grã-Bretanha para viver com a sua tia-avó e o seu tio, enquanto o pai trocou a Polónia por Israel, em 1953.
Apesar do horror que viveu, Hannah casou-se em 1961, teve quatro filhos e oito netos, e agora partilha a sua experiência do Holocausto em escolas e universidades. “De vez em quando as crianças dizem: ‘Tu contas a tua história porque odeia os alemães?'”, diz ela. “Eu digo não, conto minha história porque me importo com vocês. Têm de ter cuidado com as pessoas que prometem o mundo e na verdade não o fazem.”