Winston Churchill, o favorito
Estava Winston Churchill no seu segundo mandato como primeiro-ministro (entre 1952 e 1955, tendo o primeiro sido durante a II Guerra Mundial) quando lhe “cai no colo” uma rainha nova, de apenas 25 anos. E foi a própria Isabel II que disse ter sido a orientação deste enorme estadista o fator definidor dos seus primeiros anos de reinado. Mas Churchill foi muito mais do que isso.
Amigos e admiradores mútuos, os seus encontros demoravam muito mais do que o tempo definidos na agenda da rainha. O secretário pessoal de Isabel II, Sir Tommy Lascelles, escreveu: “Eu não conseguia ouvir o que diziam, mas ouvi-os rir imenso”. Lilibet não podia ter encontrado melhor mentor nos meandros da política britânica e internacional. E como prova do seu reconhecimento quebrou o protocolo no funeral de Churchill, em 1965: em vez de ser a última a chegar, foi a primeiro, por respeito à família.
Anthony Eden, pé na argola
Ministro dos Negócios Estrangeiros durante a II Guerra Mundial, Anthony Eden, Conde de Avon, teve a ingrata tarefa de suceder a Churchill e foi primeiro-ministro entre 1955 e 1957. O seu mandato ficou marcado pela forma controversa como lidou com a crise do Suez, quando o Egito nacionalizou o canal que tinha sido controlado pela Inglaterra. Israel, apoiado pela França e pelo Reino Unido, declarou guerra ao Egito, mas estas potências tiveram de se retirar, humilhadas, por pressão dos EUA e da União Soviética.
Harold Macmillan, tempo de conspirações
Anthony Eden afastou-se invocando problemas de saúde e a rainha nomeou Harold Macmillan (1957-1963), depois de ouvir alguns membros do partido conservador. Estando o lugar do líder livre, é uma das suas prerrogativas nomear o primeiro-ministro. Mas os dois não se deram muito bem, ao início, acabando, no entanto, por confiar um no outro. Com Macmillan assistiu-se à independência do Gana, mas Isabel II conseguiu evitar que a antiga colónia se juntasse ao bloco soviético, com uma visita ao país. Estávamos no auge da Guerra Fria.
O governo de Macmillan foi pródigo em conspirações e escândalos sexuais (incluindo o caso Profumo) e a própria rainha viria a ser arrastada, noticiando-se que contribuira para a queda do primeiro-ministro, em 1963. Algo que o Palácio sempre negou, pois Isabel II fazia questão de manter-se imparcial nas guerras partidárias.
Alec Douglas-Home, o amigo
Durou apenas um ano o mandato deste barão, senhor de muitas propriedades na Escócia. Era amigo da Rainha Mãe e visita lá de casa; Isabel II conhecia-o desde criança.
Harold Wilson, a chegada da classe média
Chegou o tempo de Isabel II ter um primeiro-ministro trabalhista, com as eleições de 1964. Wilson faria dois mandatos (1964-1970 e 1974-1976). O socialista não se deixava intimidar pela realeza e comportava-se com Isabel II de igual para igual. Aliás, falava com ela como se fosse um membro do seu governo. A rainha apreciava as conversas com este intelectual que levou a cabo reformas na educação, saúde, assistência social, etc. Tinham uma relação amistosa e bastante informal.
Edward Heath, o desconfortável
Edward Heath, que governou entre 1970 e 1974, foi o primeiro-ministro que levou o Reino Unido à União Europeia. Era a sua obsessão. Talvez por essa razão, a sua visão não era concordante com a da rainha, que dava primazia à Commonwealth. Os dois tinham uma relação fria, embora Heath tenha sido sempre muito correto com a monarca. Mas Isabel II nunca esteve confortável com ele, conta um biógrafo real.
James Callaghan, o militar
Harold Wilson dizia que a rainha respeitava muito quem servia nas forças armadas, caso de James Callaghan, outro primeiro-ministro trabalhista, que esteve na Marinha Real. O certo é que, com Callaghan, as reuniões de terça-feira voltaram a ser mais descontraídas. Callaghan era monárquico e contava que Isabel II “conseguia ver o lado divertido da vida”.
Pouco divertida estava a economia britânica. Embora Callaghan tivesse conseguido controlar a inflação, fazendo-a descer dos dois dígitos para apenas um, o terreno estava a ser preparado para o aparecimento de uma “dama de ferro”. Uma série de greves no inverno de 1978/79 marcou aquele que ficaria conhecido como o “inverno do descontentamento”.
Margaret Thatcher, poder feminino
Na série The Crown, a primeira ida de Margaret Thatcher a Balmoral, a residência escocesa da rainha, é ridicularizada. Por um lado, a primeira-ministra não iria preparada para a vida aristocrática do campo, levando saltos altos em vez de galochas; por outro, a família real terá desdenhado os seus modos pouco refinados. Tudo foi veementemente negado pelo Palácio Real.
Sempre houve tendência para dizer que a rainha e Thatcher se davam mal. Não é verdade. É até bastante sexista, como o notou a primeira-ministra na sua autobiografia, embora usando outras palavras: “Sempre achei a atitude da rainha perante o trabalho do governo absolutamente correta. Claro que história de atritos entre duas ‘mulheres poderosas’ são sempre muito boas”.
Não eram as melhores amigas, pelo contrário, havia uma formalidade rígida nos seus encontros. Thatcher esperou que fosse Isabel II a quebrar o gelo, mas isso nunca aconteceu, contou em tempos William Whitelaw, líder da bancada conservadora. Mas a rainha quebrou o protocolo e foi ao funeral de uma plebeia, Margaret. Desde Churchill que não ia ao enterro de um primeiro-ministro.
John Major, tempos duros
Quando os anos terríveis de Margaret Thatcher pareciam ter ficado para trás na memória dos súbditos de sua majestade, eis que a rainha vivia o seu annus horribilis, como ela própria classificou: em 1992. Primeiro separaram-se André e Sarah Ferguson. Depois a princesa Ana. Mais tarde Carlos e Diana, depois de muitas revelações nos jornais. O ano terminaria com um incêndio no Castelo de Windsor… Foi John Major, primeiro-ministro entre 1990 e 1997, quem anunciou no parlamento o divórcio oficial de Carlos e Diana, em 1996.
John Major considerava a rainha uma pessoa “astuta”, com quem se podia “conversar livremente”. “Em Muitos sentidos, é catártico”, referiu numa entrevista.
Tony Blair, o gabarolas
De volta aos primeiros-ministros trabalhistas, mas desta vez com uma relação bem mais fria do que aquela que teve com Wilson ou Callaghan. Nas suas memórias, Blair fala sobre o primeiro encontro com a rainha: “Ela foi bastante tímida, o que é estranho para alguém com a sua experiência e posição. Ao mesmo tempo, foi direta”. Os dois pouco tinham em comum. Tony Blair repetia expressões como “terceira via” ou “modernização” e Isabel II não era dada a modernices, preferindo a tradição e a estabilidade.
E embora se dissesse à boca fechada que a rainha, simplesmente, não gostava de Tony Blair, ela deu-lhe o título de Sir no meio de grande controvérsia, tendo em conta que foi ele quem embarcou o Reino Unido na guerra do Iraque, junto com George W. Bush, com base em mentiras. Além disso, logo no início dos mandatos (1997-2007), Isabel II não gostou que Tony Blair se tivesse gabado de a ter aconselhado a regressar a Londres após a morte da princesa Diana, quando ela queria ficar em Balmoral a consolar os netos.
Gordon Brown, o mal amado
Tal como Tony Blair, Gordon Brown também não foi convidado para o casamento de William e Kate, em 2011, o que mostra bem o grau de proximidade com a rainha. Parece que o amor de Isabel II pela Escócia não foi suficiente para gostar do escocês Gordon Brown, cujo ar severo a rainha imitava em privado, segundo alguns relatos.
David Cameron, o jovem
Tinha 44 anos e foi o primeiro-ministro mais jovem de Sua Majestado, tomando posse em 2010 e governando até 2016. Cameron ainda é aparentado com a família real, mas de forma já distante. Deu-se bem com a rainha, embora tenha tido o embaraço de, sem querer, revelar uma conversa privada que teve com ela sobre o referendo escocês, esquecendo-se que ainda tinha o microfone ligado. Parece que Sua Majestade “ronronou de felicidade” quando soube que a Escócia não queria ser independente. Foi perdoado. E trabalhou com a rainha para mudar a lei de sucessão: filhas mais velhas podem ascender ao trono antes dos irmãos mais novos.
Theresa May, a trabalhadora
Isabel II admirava Theresa May (2016-2019) e teve uma relação próxima com a sua segunda primeira-ministra. Ansiava pelas reuniões semanais e gabava-lhe a capacidade de trabalho.
Boris Johnson, o indiscreto
“Eu não sei porque é que alguém havia de querer este trabalho” [de primeiro-ministro] terá dito Isabel II a Boris Johnson logo na primeira reunião entre ambos. Quem o disse foi o próprio Boris Johnson, sem tento na língua, pois é de péssimo tom revelar as conversas privadas com a rainha. O primeiro-ministro teve de se desculpar.
Voltou a pedir-lhe desculpa outras vezes. Por lhe ter pedido para dissolver o parlamento, algo que o Supremo Tribunal considerou ilegal, e por ter havia uma festa na residência do primeiro-ministro na véspera do funeral do Duque de Edimburgo.
Liz Truss…
Uma história que fica por viver, já que a rainha morreu dois dias depois de dar posse à nova primeira-ministra.