A Suíça é um país conhecido por não querer envolver-se em guerras e chatices externas há cinco séculos. Sucede que não está imune aos efeitos da “operação militar especial” desencadeada pela Rússia, a 24 de fevereiro. O governo de Berna seguiu o exemplo dos demais Estados do chamado Ocidente e também decretou sanções ao regime liderado por Vladimir Putin, com o atual Presidente da Confederação Helvética, Ignazio Cassis, a afirmar que “ser neutro não é ser indiferente”. Muitos dos seus compatriotas acham que se deveria ir muito mais longe. “A neutralidade torna-se indecente quando a nossa atitude de pura expectativa tem como efeito a recompensa do agressor e a penalização do agredido”, acusa Gerhard Pfister, deputado democrata-cristão e líder do Partido do Centro, que tem fustigado o Conselho Federal – o executivo suíço – por este se limitar a congelar as contas bancárias dos oligarcas russos e ter até impedido a exportação de munições para a Ucrânia. Mas este tipo de polémicas não se circunscreve à nação alpina.
Na República da Irlanda, que tem disponibilizado material bélico não letal ao Exército ucraniano, o primeiro-ministro Micheál Martin anda há meses a dizer algo parecido com o que afirmou Ignazio Cassis: “Nós não somos politicamente neutros, mas somos militarmente neutros.” Uma postura que António de Oliveira Salazar adotou com mestria durante a II Guerra Mundial. Ao vender simultaneamente volfrâmio a alemães e a britânicos, aceitando pagamentos de Berlim com ouro confiscado aos judeus e concedendo vantagens logísticas aos Aliados (em particular a açoriana base das Lages), o ditador de Santa Comba Dão evitou a entrada de Portugal no conflito e fez jus ao conceito de “neutralidade colaborante”.