Quase dois anos depois do início da pandemia, Taiwan continua a insistir em medidas altamente restritivas – as fronteiras continuam fechadas à maior parte dos visitantes estrangeiros, é obrigatório um período de quarentena após entrada no país e as máscaras continuam a ser obrigatórias na grande parte das situações sociais.
As medidas pesadas, que contribuíram para o sucesso de Taiwan durante os primeiros 18 meses da pandemia – Taiwan registou 16.430 casos e apenas 847 mortes – são agora desajustadas à nova realidade mundial, com a maioria dos países a começar a adaptar-se a uma nova realidade em que têm de conviver com a Covid-19, em vez de tentar travá-la a todos os custos.
Zero-covid – mas a que custo?
Em Julho, a Economist Intelligence Unit afirmou num relatório que a abordagem zero-Covid, utilizada nos países asiáticos, “trouxe benefícios tanto para a saúde como para a economia, e tem sido popular onde foi implementada”. O relatório continua, explicando que “se o resto do mundo tivesse adoptado uma abordagem semelhante, a zero-Covid poderia revelar-se uma estratégia sustentável”. Mas uma vez que tal não aconteceu, e muitos países, como o Reino Unido, apostaram em implantar menos restrições na esperança de construir a imunidade de grupo, a política “tornar-se-á inviável à medida que a economia global for reabrindo”.
A estratégia zero-Covid foi seguida por alguns países asiáticos, e atualmente a China e Hong Kong continuam a resistir à abertura num mundo pós-pandemia.
Em Taiwan, restrições pesadas nas fronteiras continuam a fazer-se sentir: o turismo internacional é inexistente, o comércio e a cadeia de fornecimentos foram igualmente impactados, e não residentes estão proibidos de entrar no país. Recentemente, as autoridades taiwanesas levantaram as restrições de entrada no país, apenas para os filhos de cidadãos de Taiwan que se encontrem a residir fora do país.
Além disso, qualquer viajante que entre no país é obrigado a cumprir um período de quarentena em hotéis ou outros estabelecimentos designados para o efeito, seguido de um outro período, de uma semana, de isolamento em casa ou noutro local designado pelo próprio.
E estas medidas não parecem ter um fim à vista: a população de Taiwan ainda se mostra receosa quanto à reabertura, e à possibilidade de novos ressurgimentos de casos se as fronteiras abrirem. Cerca de 73% da população recebeu pelo menos uma dose da vacina, mas apenas um terço tem a vacinação completa.
Por trás desta baixa taxa de vacinação estão vários fatores: pouco stock inicial, falta de vacinas a nível global, mas também motivos políticos, tendo a China recusado doações de vacinas do Japão e dos EUA.
No entanto, o prolongamento das restrições tem um custo, alerta Chunhuei Chi, diretor do centro de saúde global da Universidade Estatal do Oregon, que acrescenta que Taiwan está a sacrificar a colaboração internacional no comércio e intercâmbio em troca de uma estratégia zero-Covid.
Tudo indica que as autoridades taiwanesas prolonguem as medidas até haver mais certezas sobre a segurança da reabertura. O ministro da saúde, Chen Shih-chung, declarou que “o objectivo atual é atingir o um cenário de zero-Covid, mas Taiwan deve também estar preparada para coexistir com a Covid-19”.
No mesmo sentido, Lee Ping-ing, conselheiro do CECC (Central Epidemic Command Center – Centro de Controlo de Epidemias) afirma que “devemos esperar que o vírus se torne mais suave e que o sistema imunitário humano se possa ajustar antes de podermos começar a coexistir com o vírus”, disse ele.