A maioria dos participantes do ato realizado no dia em que se comemora a Independência do Brasil vestia as cores verde e amarelo, empunhava bandeiras do país e fazia saudações patrióticas e elogios ao Governo. Um grande número participante do protesto não usava máscara de proteção contra a covid-19.
Diferente de outros atos, os manifestantes também carregavam cartazes com mensagens em língua estrangeira, na maioria das vezes em inglês, contra juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), em favor da liberdade de expressão, do voto impresso e do que classificam como valores cristãos conservadores.
Empunhando um cartaz que trazia a mensagem “President Bolsonaro free Brasil from comunism! Make an intervention” em tradução livre “Presidente Bolsonaro livre o Brasil do Comunismo! Faça uma intervenção”, o engenheiro João Gadum, de 62 anos, disse à Lusa que não via o ato em São Paulo como um protesto, mas como uma manifestação de patriotismo.
“[Hoje] é uma nova independência do Brasil, um resgate dos valores da família, da pátria e da religiosidade”, disse.
João Gadum também afirmou que escreveu em inglês para que sua mensagem possa alcançar mais países “é a língua mais falada, a que mais as pessoas entendem no mundo inteiro é o inglês. Eu gostaria que fosse [uma mensagem] para o mundo e que ninguém interpretasse mal este dia 07 de setembro e o que o nosso Presidente Jair Bolsonaro está a fazer pelo Brasil.”
A reportagem avistou vários cartazes com frases contra juízes do STF e também em favor de um regime militar liderado por Bolsonaro para combater o “comunismo” em outras línguas, como o francês e o espanhol.
Outro manifestante que optou pelo inglês para defender Bolsonaro foi Warderly Fernandes, 72 anos, que usou língua estrangeira num cartaz que pediu uma intervenção no STF, instância máxima da Justiça brasileira, por querer “que esta imagem corra o mundo, que todos entendam que isto está acontecendo agora”.
“Entendo que esta manifestação é a maior que o mundo já viu, nenhum outro presidente, nem Getúlio Vargas, nem [Adolf] Hitler, ninguém teve o apoio popular que tem o Bolsonaro. Esta é a manifestação máxima, entendo que é a maior do mundo até agora”, disse o apoiante do Governo brasileiro.
Joana da Rocha Oliveira, de 52 anos, afirmou que Bolsonaro luta pela liberdade, pela democracia do Brasil enquanto alguns juízes do STF estão interferindo no Governo e também defendeu uma intervenção militar.
“Nós entendemos que neste momento por conta de todas as arbitrariedades do STF só os militares poderão restabelecer a ordem e a democracia no nosso país. Nos apoiamos que o Presidente tome todas as mediadas necessárias para restabelecer a democarcia no país, mesmo que precisa evocar o apoio dos militares”, afirmou.
Nós queremos que o mundo saiba que o povo brasileiro apoia o Presidente Bolsonaro”, salientou.
Manifestações a favor do Governo brasileiro no dia 7 de setembro, data em que se comemora a Independência do país, foram incentivadas por Bolsonaro e seus apoiantes há quase dois meses num contexto de fortes tensões entre o chefe de Estado, o Supremo Tribunal Federal e parte do Congresso, instituições que o governante e seus apoiantes acusam de atuar como “partidos de oposição” contra o Governo.
Além disto, a popularidade do Presidente brasileiro está em queda devido à pandemia (hoje ele tem aprovação de cerca de 25% da população), à crise económica e às constantes declarações polémicas feitas.
Nas últimas semanas, Bolsonaro provocou instabilidade institucional ao fazer duras críticas à Justiça, que investiga o chefe de Estado por supostas irregularidades no combate à pandemia de covid-19 e por difundir notícias falsas sobre a transparência e fiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.
Em seu discurso na Avenida Paulista, o Presidente brasileiro afirmou que “não mais cumprirá” decisões do juiz do STF Alexandre de Moraes e acrescentou que “nunca será preso”.
“Ou esse juiz [Alexandre de Moraes] se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse juiz que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar o povo”, disse em São Paulo.
O chefe de Estado também voltou a defender o voto impresso em substituição da atual urna electrónica, modalidade que acusa ser alvo de fraudes.
“Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública de votos. (…) Não posso participar de uma farsa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”, concluiu Bolsonaro, em referência ao juiz Luís Roberto Barroso, presidente do órgão máximo da Justiça Eleitoral brasileira.
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