Dois dias depois de tomar posse como Presidente do Estados Unidos da América, Barack Obama reuniu-se, pela primeira vez, na Sala de Crise, com os comandos militares e de segurança nacional. Visto por muitos como demasiado jovem e inexperiente em matérias de Defesa, ele estava ainda a tentar criar boa impressão entre todos os intervenientes que se sentavam, apertados, em volta de uma longa mesa numa divisão com as janelas fechadas, no primeiro piso da ala ocidental da Casa Branca. Mas logo, nessa reunião inicial, Obama foi confrontado com um pedido urgente: era necessário enviar, com rapidez, mais três dezenas de milhares de homens para o Afeganistão ou, argumentavam os chefes militares ali reunidos, era inevitável que a situação no país fugisse do controlo, que os talibãs recuperassem o poder e que a Al-Qaeda voltasse a ser uma ameaça. A decisão de enviar ou não um novo e grande destacamento de tropas pertencia apenas ao Presidente novato que se sentava pela primeira vez naquela sala, onde o consenso entre as chefias militares parecia generalizado sobre a necessidade de reforçar, em larga escala, o contingente no Afeganistão. Havia, no entanto, uma exceção: o então vice-presidente, Joe Biden, levantou a voz para se opor a esse plano, já que considerava ser necessário repensar primeiro toda a estratégia face ao Afeganistão, que via como “um perigoso atoleiro”. Obama aproveitou essa intervenção e conseguiu adiar a decisão por uns dias. Mas, à saída, viu o seu braço ser agarrado por Joe Biden, que acercou o seu rosto ao dele e lhe disse: “Se calhar já ando nisto há tempo demais, mas sei uma coisa: sei quando os generais estão a tentar encurralar um novo Presidente. Não se deixe encurralar.”

Doze anos depois desse episódio – que Obama conta de forma minuciosa no primeiro volume da sua autobiografia –, Joe Biden já não é o conselheiro próximo, mas sim o decisor final. O relato do que aconteceu nestes últimos dias no Afeganistão indica que, em nenhum momento, o atual Presidente se deixou encurralar pelos generais com quem se reúne na Sala de Crise. Mas a forma caótica e desordenada como aceitou que terminasse a mais longa guerra da história dos Estados Unidos da América acabou, afinal, por o deixar encurralado na sua própria decisão.