“Conseguimos uma vitória que não era esperada”. Foi assim que o mullah Baradar Akhund, chefe do gabinete político dos rebeldes no Qatar, falou sobre a conquista de Afeganistão pelos talibãs, numa mensagem em vídeo citada pela agência Efe. “Trata-se agora de como servimos e protegemos o nosso povo, e como asseguramos o seu futuro, para lhe proporcionarmos uma boa vida da melhor forma possível”, referiu. Os talibãs, que passaram a controlar Cabul, a capital, a partir de domingo, patrulham agora as ruas e controlam a circulação de cidadãos, com milhares a tentar fugir do país a partir do aeroporto de Cabul, que se transformou entretanto num cenário de terror. Até ao momento, foram registadas pelo menos sete mortes no aeroporto. À CNN, um cidadão afegão que se encontrava no aeroporto explicou que estava a tentar sair do país por temer a perseguição dos talibãs logo após a partida dos americanos. “Os EUA têm de levar-nos com eles. Depois de irem embora, seremos deixados para trás para sempre ”, acrescentou.
Um cidadão afegão, com quem a CNN falou nas ruas de Cabul, referiu que os habitantes só querem “paz” neste momento. “Estamos cansados desta guerra que nos é imposta por países estrangeiros há 45 anos”, afirmou.
Várias famílias de militares britânicos que morreram em missões no Afeganistão têm criticado a atuação dos governos britânico e americano, referindo que estes deviam ter atuado mais rapidamente na retirada dos civis, assim que os talibãs começaram a assumir o controlo do país. “Não estamos surpresos que os Taliban tenham assumido o controlo, porque assim que os americanos e os britânicos disseram que iam embora, sabíamos que isso ia acontecer. Os Taliban deixaram bem claro que, assim que saíssemos, eles começavam a mexer-se”, afirmou à agência noticiosa PA Media Graham Knight, de 69 anos, pai de Ben Knight, sargento da Royal Air Force, que morreu aos 25 anos em missão.
A preocupação com as mulheres
A grande preocupação da ativista Pashtana Durrani, que diz não ter “mais lágrimas para chorar” devido à situação do país, tem a ver com o acesso das mulheres à educação, que, durante a década de 90, quando os talibãs governaram o país, viram os seus direitos restringidos. À CNN, Durrani afirmou que o talibãs devem permitir a educação a raparigas e mulheres e que estas últimas devem continuar a ter acesso às universidades. Vários habitantes de Cabul, com medo das repressões dos talibãs, começaram a rasgar anúncios que mostravam mulheres sem lenços na cabeça, já que, de acordo com a sua ideologia, as mulheres devem ser excluídas de grande parte da vida pública.
Suhail Shaheen, porta-voz do grupo extremista, afirmou, contudo, ao The Guardian, que os direitos das mulheres serão garantidos. “A nossa política é a de que as mulheres terão acesso à educação e ao trabalho e usarão o hijab”, que permite às mulheres mostrarem a cara.
De acordo com a Sky News, os canais de televisão afegãos começaram a retirar as mulheres pivôs das emissões, assim como a música transmitida entre os programas.
À estação televisiva TRT World, a ativista e defensora dos direitos das mulheres afegãs Mahbouba Seraj disse que os líderes mundiais, principalmente norte-americanos, deviam ter “vergonha na cara” pelo que fizeram ao Afeganistão. “Porque é que estão a fazer isto a esta parte do mundo? Não entendo (…) Nós pedimos, fizemos de tudo, e ninguém prestou atenção”, afirma, referindo que o que está a acontecer no Afeganistão neste momento vai fazer com o que o país recue 20 anos.