“Prepare-se para a colisão de 79”, lia-se num panfleto desse último ano da década de 1970, “com o capacete de proteção Skylab”. Perante a queda iminente da estação espacial da NASA, batizada com aquele nome, houve quem aproveitasse para fazer negócio, em modo sarcástico, com a ameaça que pairava sobre as cabeças da população mundial. Os promotores da ideia faziam questão de salvaguardar que o capacete não evitaria “fortes dores de cabeça”, no caso de a estação espacial cair em cima de alguém. “Na verdade, não lhe fará bem algum! Mas vai dar-lhe a confiança de saber que está vestido apropriadamente para este evento único na vida (esperamos).”
Deu para brincar, mas o assunto era sério. Se agora há preocupação face à queda, nos próximos dias (9 ou 10 de maio é a previsão), de uma parte de um foguetão chinês que pesa 20 toneladas, há 42 anos eram 77 toneladas de material espacial em rota de colisão com a superfície terrestre.
Lançada em 1973, a Skylab era a primeira estação dos Estados Unidos da América no Espaço, mas só foi programada para a viagem de ida. Precaver o regresso era, simplesmente, demasiado caro, justificara a agência espacial norte-americana. Em finais de 1978, começou a perceber-se que consequência teria essa poupança no orçamento: Houston, we have a problem! A estação estava em trajetória descendente e, mais cedo ou mais tarde, parecia inevitável reentrar na atmosfera, desfazer-se em pedaços, e cair em algum ponto (ou vários) do planeta. Onde? Ninguém sabia.
Em julho de 1979, a NASA engendrou um plano de modo a garantir que os detritos acabariam no Oceano Índico, longe de zonas habitadas. Ao acionarem os foguetes auxiliares da estação espacial, os engenheiros aeroespaciais conseguiram, de facto, que uma parte significativa “aterrasse” em águas oceânicas, no dia 11 desse mês, mas outros fragmentos foram parar ao deserto da Austrália e a alguns agregados populacionais da costa ocidental, embora sem causarem feridos nem mortes. Esperance, um desses agregados, emitiu uma multa de 400 dólares aos EUA, que só viria a ser paga 30 anos mais tarde, em 2009, quando uma rádio norte-americana organizou uma angariação de fundos com esse objetivo.
Em plena crise do petróleo, motivada pela Revolução Iraniana que depôs Reza Pálavi, o último xá da Pérsia, a presidência de Jimmy Carter lidava com baixos níveis de popularidade, e os norte-americanos, embora assustados, não perderam a oportunidade de parodiar a agência espacial governamental, nos meses anteriores ao embate. Além dos capacetes que nada protegiam, realizaram-se “festas Skylab” por todo o país, venderam-se autocolantes e t-shirts com grandes alvos desenhados, surgiu no mercado o repelente Skylab, anunciaram-se encontros em jardins para assistir à queda e criaram-se associações tão excêntricas como a Sociedade dos Observadores da Skylab e Jantares Gourmet.
O caso teve repercussão global, até porque não havia a certeza do local onde os destroços iriam cair. Nos anos 80, Portugal também teria a sua Skylab. Era uma discoteca, em Lisboa. E ainda hoje o nome persiste por cá, num restaurante em Pinhel, distrito da Guarda.