À medida que o tempo passa, e já lá vão mais de 24 horas, e enquanto o navio porta-contentores MV Ever Given continuar a bloquear o Canal do Suez, no Egito, aumentam também os atrasos catastróficos nas cadeias de abastecimento mundiais, nas entregas de alimentos, combustível e, especula-se, vacinas. Mas, em princípio, e visto que a viagem entre a China e a Europa demora aproximadamente 30 dias, as vacinas são transportadas por meio aéreo. No entanto, todo o sistema de refrigeração dentro dos milhares de contentores salvaguarda as mercadorias, visto existirem baterias de emergência que são acionadas em caso de avaria. Mesmo se os navios ficarem sem energia, aguentam a refrigeração, tal como um frigorífico doméstico quando há um corte de energia, tal como explicou à VISÃO o responsável pelo departamento de operações de uma empresa portuguesa representante exclusivo de armadores de transporte marítimo.
Naquela que é a uma das rotas marítimas mais importantes do mundo já há um congestionamento de uma centena de outros navios. E vai continuar a aumentar à velocidade de 50 embarcações por dia, mesmo com as autoridades marítimas a abrirem outros cursos históricos do canal na tentativa de aliviar o engarrafamento.
Independentemente de como aconteceu o acidente, por volta das 5 e 40 (hora de Lisboa) de terça-feira, 23, – tenha sido causado pelos ventos fortes e uma tempestade de areia que bloqueou a visão do capitão e tirou o navio do curso antes de encalhar com a proa fora da água contra a parede leste e a popa encravada contra o lado oeste e ficasse sem energia; tenha sido, segundo a empresa de navegação GAC, um “apagão” prévio que fez com que o navio perdesse a potência e a direção antes de ficar preso – a prioridade entre todas prioridades é libertar o navio, pois a cada dia que o canal se mantém bloqueado, aproximadamente, 12% do comércio marítimo mundial não circula. Cerca de 8% do gás natural liquefeito passam pelo canal, assim como cerca de um milhão de barris de petróleo por dia.
O navio, pertencente à Ever Given Corporation de Taiwan, com bandeira do Panamá, transportava cargas de Yantain, na China, para Roterdão, na Holanda, e foi construído no Japão, há três anos, com quase 400 metros de comprimento (mais 100 metros do que a Torre Eiffel) e 59 metros de largura e é um dos maiores cargueiros do mundo, com capacidade para transportar cerca de 20 mil contentores de uma vez, somando 200 mil toneladas. Até ao momento todos os rebocadores do Egito foram enviados para libertar o navio, enquanto a tripulação retira areia da proa.
Com as autoridades e os especialistas a delinearem a estratégia de um possível resgate, os analistas alertam que entre os navio bloqueados estão dez petroleiros que transportam 13 milhões de barris de petróleo bruto, o que fará com que os preços subam dois por cento esta quarta-feira, 24. Por água, a única alternativa é as embarcações contornarem o Corno da África e aproximarem-se do Mediterrâneo pelo lado oeste, o que vai acrescentar 14 dias e cinco mil milhas náuticas (cerca 9 260 quilómetros) à viagem. Outra possibilidade de uma missão sem precedentes e deveras limitada é o barco, como é mais largo do que o próprio canal, sair exatamente da mesma maneira como entrou. Mas, com as duas extremidades fora da água, significa que não há direção. Se o trabalho de rebocadores e escavadoras não for suficiente para liberar o navio, por terra ou ar a opção é começar a remover o peso, despejando combustível ou descarregando a carga, contentor um por um.