No momento em que começam as quarentenas obrigatórias em hotéis, para quem chega de países considerados de risco pelas autoridades britânicas, há todo uma conversa no ar bem mais animadora em terras de sua majestade. Como quem diz, lojas a reabrir, crianças a visitar avós e até estadas fora de casa para famílias – segundo contam os media britânicos, desde que o primeiro-ministro Boris Johnson fez saber que “o número de novos casos já diminuiu muito consideravelmente”, há já uma série de manobras nos bastidores para permitir algum desconfinamento. Ao que revela o Daily Mail, os próprios ministros estão mesmo a considerar planos para que as famílias possam ir de férias em breve – ou pelo menos encontrarem-se ao ar livre no período da Páscoa.
São planos que ganharam um novo embalo desde que Boris Johnson anunciou, este domingo à noite, que o país tinha atingido o seu objetivo de ter 15 milhões de pessoas inoculadas com a primeira dose da vacina contra a Covid-19 antes do previsto.
“Uma façanha extraordinária”, disse, acrescentando que os números de infeções “devem continuar a descer” e que isso deverá deixar o país “numa posição em que possa continuar a reabrir”. À cadeia de televisão americana CBS, Johnson frisou ainda que ‘o que as pessoas querem ver é clareza sobre o caminho a seguir, que permita tomar medidas para reabrir, sem que depois se tenha de inverter” o processo.
Otimismo cauteloso…
Ao relata ainda aquele diário britânico, são desenvolvimentos que também já puseram muita gente a sonhar com a flexibilização das restrições para fazer exercício ao ar livre – e deportos como o golfe e o ténis – e permitir ainda alguma socialização já para o mês que vem. Para abril, os planos devem incluir também a autorização para bares e restaurantes poderem servir ao ar livre. Mas antes disso é ainda possível que seja permitido a cada agregado familiar viajar pelo Reino Unido durante as férias da Páscoa.
O ritmo da flexibilização das restrições depende sempre dos pareceres científicos em curso, mas sabe-se igualmente que em cima da mesa estão planos para permitir que os avós se possam encontrar com os seus netos ao ar livre já para o mês que vem. Segundo disse fonte do governo ao The Telegraph poderá haver uma isenção à regra do encontro individual ao ar livre para crianças: ‘Se os avós tiverem tomado a vacina, o mais provável será não haver problema”.
A pensar também na reabertura do comércio, Dominic Raab, o ministro dos Negócios Estrangeiros terá mesmo sugerido que poderá ser implementado o uso de certificados de vacinas para entrar em lojas e restaurantes, assegurando que o governo está a considerar a sua utilização “a nível doméstico ou local”. Até agora, era algo que não fora considerado publicamente, mas, segundo disse Raab à rádio LBC, quando lhe perguntaram se seria necessário esse certificado para entrar em supermercados, “é algo que não foi descartado” e “está a ser analisado”.
Passaporte para todos?
Fonte do governo terá, entretanto, desmentido que se esteja a ponderar a hipótese para uso doméstico, prossegue o Daily Mail, embora a discussão ainda esteja bem no início, depois de o antigo primeiro-ministro Tony Blair ter dito que o Reino Unido deveria criar um esquema global de passaportes de vacinação Covid antes de acolher a cimeira do G7 em Junho. “A necessidade é óbvia: o mundo está a avançar nesta direção”, escreveu Blair naquele jornal, este domingo.
Agora é esperar para ver o roteiro mais detalhado que Boris Johnson se prepara para anunciar, no qual se define como será feito o aliviar das restrições num país que está em confinamento rigoroso desde dezembro – e cuja abertura gradual está agendada para 8 de março, com o regresso da escola presencial. Mas também já se sabe que o plano “evitará estabelecer datas fixas para as fases subsequentes” – apenas a sequência em que as restrições serão levantadas.
Para já, os ministros aguardam os dados que mostram o efeito que a vacina está a ter na transmissão do coronavírus no Reino Unido. Segundo fez já saber Tim Spector, o epidemiologista do King’s College que dirige a aplicação de vigilância Zoe Covid-19, as indicações preliminares mostram que uma única dose de vacina oferece proteção contra o vírus logo três semanas depois da inoculação para 67 por cento das pessoas. “Se os resultados de 50 mil pessoas forem replicados entre a população em geral, então teremos acertado no vírus em cheio”. Uma partilha em vídeo, no Twitter, num tom prudente, mas cheio de otimismo.