O meridiano 180, nos antípodas do meridiano de Greenwich que define o fuso horário de Portugal, marca a mudança de dia no planeta: a oeste dessa linha imaginária, no exato momento em que se entrava nesta sexta-feira, 25 de setembro, o dia 24 iniciara-se há apenas uma hora nos territórios imediatamente a leste, como é o caso de Niue. Nesta ilha paradisíaca no Oceano Pacífico, um dos países mais pequenos do mundo – com uma área de 260 km2, é pouco maior do que a ilha de São Jorge, nos Açores -, vive-se com 23 horas de atraso em relação à não muito distante Nova Zelândia, o principal parceiro comercial.
Os cerca de dois mil habitantes de Niue são considerados cidadãos neozelandeses, pois existe uma relação de livre associação entre os dois países, que partilham a rainha Isabel II, de Inglaterra, como chefe de estado. Além disso, mais de 90% dos nativos da pequena ilha, entrincheirada entre Tonga, Samoa, as ilhas Cook e a Polinésia Francesa, reside na Nova Zelândia. Acontece que, face à posição que ocupa no globo, quando é sexta-feira em Niue já é fim de semana na Nova Zelândia, do mesmo modo que ainda é domingo quando já é dia de trabalho no país famoso pela sua seleção de râguebi, os All Blacks. Sobram, portanto, três dias úteis em simultâneo, o que atrapalha as relações comerciais. Daí o desejo de passarem para uma posição a oeste da chamada Linha Internacional de Mudança de Data, que se estende ao longo do meridiano 180 mas já conta com várias curvas para acomodar idêntica pretensão de outros territórios da região.
“É mais conveniente para os negócios estarmos no mesmo dia da Nova Zelândia”, argumenta, em declarações à rádio Newstalks ZB, o deputado Terry Coe, que em novembro pretende levar a proposta ao parlamento de Niue. O primeiro-ministro, Dalton Tagelagi, já disse não ver inconvenientes e os comerciantes locais apoiam a iniciativa, mas Terry Coe diz que ainda é preciso ultrapassar o ceticismo de alguns grupos, tanto os que alegam que a mudança “vai custar muito dinheiro” como os religiosos, que temem “ficar sem os domingos para ir à igreja”, como se os fins de semana desaparecessem do calendário. O deputado argumenta ainda que a medida será benéfica para o turismo, uma vez que os visitantes “saberão que, se partirem da Nova Zelândia a uma terça, vão chegar a Niue no mesmo dia”.

Uma linha aos ziguezagues
Para que tal aconteça, será necessário proceder a mais um desvio na Linha Internacional de Mudança de Data, já com vários “ziguezagues” na ligação entre polos, como lembrou Terry Coe. Em 2011, por exemplo, Samoa e o arquipélago de Toquelau “mudaram de lado”. Apesar de se situarem geograficamente a leste do meridiano 180, e portanto a viverem no “ontem” em relação aos países a oeste, juntaram-se a estes para sintonizarem o calendário no “hoje”.
A referida linha sofre vários outros desvios, a começar no estreito de Bering, que separa a Rússia dos Estados Unidos, e a acabar nas ilhas Chatham, que pertencem à Nova Zelândia, mas o maior ziguezague de todos surge abaixo da Linha do Equador, para acomodar Tonga e o arquipélago de Quiribati do lado dos países que seguem mais avançados no tempo. Agora é a vez de Niue ponderar o salto para oeste e recuperar o dia de atraso.