Os primeiros avisos chegaram logo em abril, pouco depois de a Organização Mundial de Saúde confirmar que estavamos perante uma pandemia. Logo se anteviu uma crise que, sendo global, iria inevitavelmente afetar os mais vulneráveis. A estimativa era já que o número de pobres em todo o planeta iria aumentar de forma drástica pela primeira vez em 30 anos.
Segundo esses dados, então divulgados pelas Nações Unidas, cada vez mais pessoas iriam viver com rendimentos inferiores a cinco euros por dia. Dias antes, a organização não-governamental Oxfam avançara com uma estimativa idêntica. Contas feitas, a pandemia iria provocar uma queda abrupta de medidas de apoio aos países mais frágeis. Agora, um relatório da OCDE detalha o tsunami anunciado: qualquer coisa como 520 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza.
Produzido pela Direção da Cooperação para o Desenvolvimento, liderada por Jorge Moreira da Silva, o documento é muito claro. Ali se lê que os fluxos financeiros dirigidos aos países em vias de desenvolvimento podem cair até aos 700 mil milhões de euros, só este ano. Uma queda de mais do dobro da que se verificou após a crise financeira de 2008/9. E mesmo que não se venha a concretizar a tão receada segunda vaga pandémica…
Perante este cenário catastrófico, o apelo dos responsáveis da organização é claro: “Os países doadores, (nomeadamente, aqueles que fazem parte da OCDE) têm a obrigação, apesar das dificuldades que hoje enfrentam, de reforçar o apoio financeiro aos países mais frágeis. Seja na fase imediata de crise sanitária seja depois no apoio à recuperação económica”. Uma convocação que, sublinham, terá de ser compatibilizada com o combate às desigualdades e às alterações climáticas.