O vídeo já anda a circular nas redes sociais e mostra uma jovem princesa (mais uma…) a pedir ajuda para escapar da família e do seu país, no caso o Dubai. A mulher, identificada com Maitha al Maktum, garante que não aguenta mais e planeia fugir nessa mesma noite. A mensagem, sublinha, foi a forma que encontrou de pedir ao mundo que a proteja do esquecimento. “Se me apanham, serei morta”, avisa. O advogado especialista em direitos humanos a quem o vídeo foi entregue, no final do ano passado, não voltou a ter contacto com a jovem. Agora, o mesmo David Haigh partilhou a gravação com o programa 60 Minutos, que a transmitiu na televisão australiana.
Sentada em frente à câmara, Maitha, de 26 anos, começa por mostrar o seu cartão para provar a sua identidade. Pede ainda desculpa pela música de fundo – com a qual tenta impedir que alguém ouça o que está a gravar.
“Estou a planear sair hoje à noite. Porquê? Não aguento mais”, segue, entre soluços, antes de explicar que quer que o vídeo seja transmitido caso lhe aconteça alguma coisa. “Sei que se for apanhada, serei morta.”
Sob tutela masculina
É verdade que Maitha não explica o motivo específico da sua decisão. Haigh, o advogado que conhece o caso, garante que a mulher quer deixar o Dubai devido ao tratamento que as mulheres recebem naquele emirado. O resto é público: apesar da imagem de modernidade que projeta, os Emirados Árabes Unidos (a federação à qual pertence o Dubai) mantêm o sistema de tutela masculina sobre as mulheres. É a chamada Wilaya, que limita a sua liberdade e existe em diferentes graus nas seis monarquias da Península Arábica.
Haigh, que também é um dos ativistas envolvidos na campanha internacional pela libertação de Latifa, diz que perdeu o contacto com Maitha depois de a tentativa de fuga mencionada no vídeo falhar. “Desde então o seu paradeiro é desconhecido”, garante, citado pelo El País. Ao que acrescenta que fora a tentativa de Latifa, em março de 2018, a inspirar Maitha. Apesar de, depois de ter conseguido enfiar-se num iate, Latifa ter sido capturada perto da costa da Índia e forçada a voltar ao emirado.
Gaiola de ouro
Diga-se ainda, que, ao contrário de Latifa, Maitha não é filha do emir do Dubai, o emir Mohamed Bin Rashid al Maktum, de 70 anos. Sobrinha do lado materno da família, partilha ainda o nome com uma prima de 31 anos, que é karateca e foi porta-estandarte dos Emirados Árabes Unidos nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
“É preciso sublinhar que não se trata apenas de Maitha. São já mais de 40 as mulheres da região que nos pediram ajuda”, segue o advogado. Tudo por causa das restrições impostas às mulheres – independentemente da idade, estado civil e tutor, que pode ser o pai, o marido ou até outro homem da família. Precisam ainda da sua permissão para casar e o chefe da família tem autoridade para limitar os seus movimentos.
Nos últimos dois anos, têm-se avolumado as tentativas de fuga de uma vida apresentada como uma gaiola de ouro. Maitha é já a terceira mulher a tentar fazê-lo. Mas para já somente Haya, de 45 anos e a mais nova das seis mulheres do emir, se saiu com algum sucesso. Aliás, em Londres, onde procura obter a custódia dos dois filhos, que viajaram com ela, ouviu recentemente o tribunal britânico dar-lhe razão.
Foi em março passado que o juiz responsável pelo caso, Andrew McFarlane, deu como provadas as suas alegações de sequestro, tortura e intimidação. O magistrado concluiu ainda que Mohamed Bin Rashid al Maktum também ordenou e sequestrou Latifa. Tal como fizera com outra filha, Shamsa, durante a sua estada em Cambridge, no Reino Unido, no ano 2000.
E, enquanto Haya, que em 2004 se tornou a sexta mulher do emir, pede proteção, Mohamed al Maktum exige o regresso dos filhos.