Depois de serem retirados os milhares de passageiros que circulavam a bordo dos navios de cruzeiro em todo o mundo, as equipa de tripulação foram obrigados a regressar a alto mar e aí permanecer no interior das embarcações até que as autoridades marítimas emitam uma autorização para que os navios pudessem atracar em segurança, permitindo ao pessoal a bordo regressar, finalmente, a terra. No entanto, essas autorizações ainda mais chegaram e há meses que mais de 100 mil tripulantes estão retidos dentro dos navios, segundo avançou o diário britânico The Guardian.
Isolados, sem possibilidade de regressar para junto das suas famílias e, em muitos casos, sem remuneração: este é o pesadelo de quem descreve o emaranhado burocrático que nesta altura está a condicionar a vida das equipas de tripulação de dezenas de navios de cruzeiro. De acordo com os últimos dados da Guarda Costeira dos EUA, só nas águas norte-americanas há pelo menos 57 mil tripulantes a bordo de 74 navios que esperam há quase um mês por uma autorização do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças para conseguirem voltar a terra. Muitos deles mantêm-se em quarentena, isolados no interior de cabines individuais sem saber quando poderão regressar aos países de origem.
Nesta altura, os processos de repatriamento de muitos destes tripulantes estão sujeitos a fortes medidas de segurança que até agora têm atrasado as decisões. Segundo a autoridade supervisora dos cruzeiros em todo o mundo, a Cruise Lines Internacional Association (CLIA), as regras internacionais obrigam, neste momento, que o desembarque destas tripulações apenas possa acontecer quando estiveram confirmadas as viagens de regresso a casa de todo o pessoal a bordo dos navios, o que é praticamente impossível, tendo em conta que existem vários países que permanecem com as suas fronteiras encerradas, mesmo para os seus próprios cidadãos. Além disso, as restrições na aviação e o encerramento dos portos marítimos tornam esta missão quase impossível para as autoridades. Em declarações à CNN, um representante da CLIA disse que a situação é neste momento “muito complexa” e “está a evoluir diariamente”.
O The Guardian avança ainda que pelo menos 17 tripulantes já faleceram e dezenas de outros tiveram que abandonar os navios em que se encontravam para serem transportados para os hospitais. Em abril, foi conhecido o caso de duas funcionárias de limpeza, um barman e um segurança que tiveram de ser retirados de um navio de cruzeiro perto da Flórida, nos EUA, depois de testarem positivo. Um médico do navio italiano Costa Fascinosa acabou por morrer no Brasil, depois de ter sido transportado para o hospital e um operador do Greg Mortimer também faleceu no Uruguai depois de 217 pessoas terem ficado infetadas a bordo. No entanto, vários países, incluindo os EUA, continuam a recusar fornecer serviços de emergência médica a estas tripulações, embora Brian Salerno, vice-presidente da CLIA, tenha garantido ao The New York Times que os membros das tripulações estão a receber todos os cuidados necessários pelas equipas médicas que integram as tripulações.