Material de proteção para médicos e voluntários está em falta numa altura em que a ONG continua com todas as equipas no terreno a assegurar o apoio e prestação de cuidados de saúde primários gratuitos às populações mais vulneráveis. “É muito urgente” repor os stocks, reforça Carla Paiva, diretora-executiva da Médicos do Mundo em Portugal à VISÃO.
A MdM em Portugal tem mantido as suas equipas de médicos, enfermeiros e voluntários a trabalhar a todo o vapor em Lisboa, Porto, Évora e Barcelos. A ONG garante cuidados de saúde primários gratuitos às populações mais vulneráveis, focando atualmente a intervenção na prevenção da COVID-19.
No entanto, as crescentes necessidades de material de proteção individual dos profissionais de saúde e voluntários que integram as equipas está a pressionar a ONG, que apela assim às empresas nacionais para que façam doações de material de proteção, de forma a que consigam continuar a trabalhar. “Não precisamos de quantidades industriais, mas estamos preocupados com a possível contaminação dos nossos voluntários, nesta fase onde toda a ajuda é pouca uma vez que o nosso stock está a acabar”, refere ainda a mesma fonte.
Entre as prioridades estão desinfetantes, batas, pés descartáveis, toucas, óculos acrílicos ou com lateral, aventais, máscaras e luvas.
Para não pressionar mais a indústria médico-alimentar, que tenta dar resposta às necessidades dos hospitais nacionais, a Médicos do Mundo está a direcionar o seu apelo a empresas onde este tipo de material seja geralmente utilizado, como as que operem em ambientes asséticos, fábricas de frio, piscinas públicas que tenham fechado ou empresas de indústria cosmética.
Num email enviado a uma empresa nacional, e a que a VISÃO teve acesso, a organização salienta a urgência e importância da cedência de material, comprometendo-se a passar recibos de todas as doações que forem feitas. “Para conseguirmos dar resposta às populações que apoiamos, nomeadamente junto das pessoas em situação de sem-abrigo, pessoas idosas e isoladas, imigrantes ou pessoas em situação irregulares (alojadas em centros de acolhimento ou equiparados), precisamos de apoio em termos de Equipamento de Proteção Individual (EPI), garantindo desta forma as necessárias condições de segurança aos profissionais no terreno e às populações que apoiamos”.
A urgência é sublinhada por Carla Paiva, que explica que “cada vez mais há maior rotatividade das equipas – por uma questão de precaução e também por exaustão dos profissionais – e cada profissional só pode usar, por exemplo, a máscara durante duas horas; as batas têm que ser trocadas depois de ser atendido cada utente. Não estamos a falar de apoio médico em condições habituais, é tudo altamente descartável”, salienta a responsável.
Na ocasião, Carla Paiva salientou ainda que todo o material recebido é bem-vindo e recorda o caso de um ginásio que dispensou à ONG todos os “pezinhos descartáveis e o desinfetante que tinha, uma vez que fechou e não vai utilizar o equipamento”. No caso de não conseguir reforçar os stocks, “vamos ter que racionar este material o máximo possível. O que significa que não vamos sair do terreno, mas que teremos que reduzir bastante a atividade”, lamenta.
“Temos atualmente 32 colaboradores no terreno e neste momento estamos quase com o mesmo número de voluntários, em rotatividade”, pelo que é um número muito elevado de pessoas para proteger.
As equipas da MdM têm estado a trabalhar diariamente, por exemplo, com a população sem-abrigo que está a ser acolhida nos pavilhões Casal Vistoso (Areeiro) ou Casa do Lago (São Domingos de Benfica), ambos em Lisboa, mas também no Hospital Joaquim Urbano, no Porto, onde pessoas imigrantes em processo de afastamento coercivo do território português estão atualmente. Diariamente, também, prestam assistência a idosos do Bairro da Picheleira e arredores, na zona da grande Lisboa, e mensalment estão a prestar apoio a questões de saúde de migrantes que se dirijam ao Centro Pedro Arrupe.
No mesmo sentido, todas as semanas prestam apoio a pessoas em situação de sem-abrigo, trabalhadores sexuais e imigrantes, sobretudo em situação irregular, nos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Vila do Conde.
Ajuda para continuar a ajudar
No entretanto, e enquanto pede doações para conseguir manter-se no terreno, a organização está também a tentar aliviar o trabalho das várias equipas que nos hospitais continuam na linha da frente da luta contra o surto de Covid-19. A VISÃO sabe que a ONGD foi contactada pela retalhista Mondelez para fazer a entrega de vários bens alimentares que a empresa quer oferecer aos profissionais de saúde – e cujo transporte, por uma questão de transparência, quer que seja feito por uma entidade independente.
Com a ajuda da Santos e Vale, que oferece o transporte, a Médicos do Mundo prepara-se assim para entregar amanhã, 31 de março, os diversos produtos alimentares cedidos pela Mondelez em cinco hospitais de Lisboa.
Recorde-se que a Médicos do Mundo Portugal é também responsável, desde agosto do ano passado, por um campo que abriga cerca de 2 000 pessoas que foram afetadas pelo ciclone Idai, em Moçambique. Um ano depois de a ONG se reinventar e voltar a ter uma missão naquele país, ajuda agora a enfrentar uma pandemia mundial que a obrigará a unir esforços em todos os lugares onde tem presença.
Quaisquer questões relacionadas com donativos devem ser encaminhadas através do email doadores@medicosdomundo.pt, esclarece ainda a ONGD.